Se você se deparar com uma serpente menor e menos incorporada do que a Jiboia e a Sucuri, pode ser a Suaçuboia. Elas são da mesma família, mas a Suaçuboia é delgada e atinge até 1,5 m de comprimento. O nome tem origem indígena e significa cobra-de-veado ou cobra-veadeira. No Brasil, o habitat natural é a Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Elas costumam viver nas árvores, têm atividade noturna e alimentação variada que consiste em lagartos, rãs, pererecas, pequenos mamíferos, pequenas aves e até morcegos. Uma das características desta serpente não peçonhenta é a forma de capturar uma presa: enrodilhar-se em torno dela e apertar até causar morte por asfixia.
“A Suaçuboia utiliza duas estratégias para caçar suas presas: a busca ativa e a espreita. Na busca ativa, a serpente percorre o ambiente à procura de alimento, enquanto que na espreita ela permanece imóvel e camuflada, à espera de uma presa em potencial que cruze seu caminho”, explica André Grespan, médico veterinário da clínica Wildvet.
Sensor de calor
O veterinário destaca uma curiosidade sobre esta serpente: ela possui estruturas especiais ao longo das escamas da boca, chamadas fossetas labiais, que são órgãos termossensitivos capazes de perceber a presença de fontes de calor próximas. Desta forma, mesmo na escuridão total, ela detecta um rato que esteja por perto, por exemplo.
A gestação também é um ponto curioso. Vivípara, ela dá à luz de três a vinte e quatro filhotes no final da estação chuvosa. Há uma adaptação anatômica, na qual os ovários da fêmea ficam dispostos de forma assimétrica no interior de seu corpo: o ovário direito tem posição anterior em relação ao ovário esquerdo, o que minimiza a distensão do corpo durante a gravidez, permitindo que a serpente continue se deslocando por galhos e árvores sem problemas.
Uma característica marcante da Suaçuboia está na enorme variedade natural de coloração presente na espécie. Existem indivíduos de cores diversas, como vermelho, amarelo e verde, além de alguns com mais de uma cor.
Macho e fêmea
Segundo o veterinário, não há diferença externa entre machos e fêmeas. “Para definir o sexo de uma Suaçuboia é necessário examinar a cloaca do animal com auxílio de um sexador. O macho possui um par de hemipênis, que ficam invertidos, formando dois canais no qual o sexador penetra”, observa.
Grespan destaca que não há, até o momento, liberação para o comércio legalizado desta espécie. Em cumprimento à resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o IBAMA iniciou a discussão com as superintendências estaduais para determinar a lista prévia de animais silvestres que poderão ser criados e comercializados no Brasil. O documento foi encaminhado para consulta pública, mas até então, por questões internas do órgão, não foi liberado. Entre os répteis ainda há muitas dúvidas sobre os quais serão liberados para criação.
“O IBAMA tem adotado uma política ideológica contra o comércio legalizado destes animais, gerando muitos entraves e burocracia para implantar criadores legalizados e, consequentemente, fomentando o tráfico de animais”, observa Grespan, lembrando que a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagens em Perigo de Extinção (CITES) e a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) reconhecem que a criação de animais silvestres em cativeiro, além de ser uma alternativa econômica rentável, aumenta o interesse por sua conservação nas áreas naturais e reduz a pressão de retirada ilegal da natureza.