É bastante comum falarmos com cães e até acreditarmos que eles nos entendem, não é mesmo? A verdade, porém, é que eles precisam ser condicionados para reagir conforme desejamos. Ensinar comandos aos nossos amigos melhora a relação com tutores e famílias, com o público em geral e com outros animais. O resultado é mais segurança e um maior bem-estar para todos.
Sem uma “educação”, os cães tendem a desenvolver comportamentos indesejados como se apressar ou empacar em caminhadas, morder durante brincadeiras, latir em excesso ou ficarem muito temperamentais, derrubando e destruindo objetos. É possível até que eles se tornem agressivos, não aceitando socializar com pessoas ou outros pets.
“Um cão não socializado, educado e treinado poderá agir de acordo com seus instintos naturais, usando a força e até a agressividade para alcançar seus objetivos. A convivência pode se tornar difícil”, alerta Ademar Venâncio, profissional com mais de quarenta anos de experiência no adestramento de cães.
Para o especialista, o ensino de alguns poucos comandos já melhora substancialmente o relacionamento entre tutores e canídeos, proporcionando a estes uma vida mais saudável por meio de atividade física, estimulação mental, enriquecimento ambiental e socialização de qualidade.
O objetivo primordial do treinamento não deve ser tornar o cão submisso ou fazê-lo impressionar as pessoas, mas garantir maior participação no dia a dia do tutor. “Um pet obediente a comandos poderá frequentar parques, lojas e shoppings, além de permitir que o tutor receba visitas em casa. Logo, o animal será mais feliz, porque ficará mais tempo conosco”, explica Venâncio.
Como instruir os nossos amigos?
Agora que já sabemos da importância de ensinar comandos aos cães, dois pontos são fundamentais. O primeiro: mesmo havendo o acompanhamento de um adestrador profissional, o real treinador é o tutor. “É ele quem passa a maior parte do tempo com o pet, cria o vínculo mais forte. Por isso, tem a capacidade real de modelar o comportamento do bichinho. O adestrador tem apenas o papel de direcionar o tutor na didática mais adequada”, comenta Venâncio.
Em segundo lugar, é necessário que o tutor seja paciente, persistente e jamais use da agressividade nos treinamentos. O cão deve ser ensinado de forma natural, humanizada, de maneira que se sinta bem em executar as tarefas. Sempre recompense com petiscos e faça carinho em seu pet durante o ensino!
Mas como ensinar, na prática, alguns comandos básicos ao nosso amigo? Existem muitos tutoriais na internet, mas Venâncio dá um exemplo fundamentado na indução:
- Segure uma bola ou petisco com a mão esquerda, já que é padrão o cão andar à esquerda do tutor. Caminhe em direções e velocidades diferentes e o pet lhe seguirá, feliz.
- Depois de acostumá-lo a lhe acompanhar, pare, traga o petisco ou brinquedo junto ao corpo e habitue o pet a ficar próximo a você. Introduza um comando, como o ‘junto’. Não adianta simplesmente falar e esperar uma reação; o cão não sabe o significado. Com os movimentos o cão é induzido, e apenas depois disso atribuímos um nome ao comportamento.
- Para que o cão se sente, o indicado é levantar a mão com o brinquedo ou o petisco. Com isso, o cão tende a levantar o focinho, dar alguns pulinhos e se acostumar a sentar.
- Invertendo o movimento, direcionando a mão ao chão, o cão tende a levar as patas dianteiras ao solo, condicionando-se a deitar.
Com muitas repetições, os movimentos vão se tornando mais e mais fluidos e espontâneos. Alguns comandos são mais complicados, claro, e requerem metodologias desenvolvidas por instrutores: andar em duas patas, pular como um canguru ou buscar determinados objetos.
“A função de guarda ou o treinamento de agility dependem de acompanhamento presencial e mais intensivo de adestradores”, descreve Venâncio. “Os comandos básicos, contudo, são assimiláveis por qualquer cão. Não existe cachorro burro ou incapaz. O que existe é ensino inadequado e falta de paciência. As consultas online a instrutores já facilitam bastante a vida dos tutores”.
E a partir de qual idade podemos iniciar o ensino de comandos aos pets? Esse é um assunto controverso. Há quem recomende treinamento somente após as vacinações, ou até bem depois delas. Venâncio acredita que o início pode ser bem cedo, desde que com muitos cuidados com os filhotes.
“É importante o cuidado ainda com as mães, pois estresse ou maus tratos durante a gestação terminam por afetar o comportamento dos filhotes. Após o período neonatal, a partir de 60 ou 90 dias, pode ser iniciada a socialização. O cãozinho pode começar a ser estimulado a ter contato com pessoas, animais e barulhos. Mas tudo deve ser feito de forma gradativa, sem causar qualquer abalo ou trauma ao filhote”, ensina o especialista.