A decisão de ser pai ou mãe é considerada uma das mais importantes na vida de uma pessoa. O século XX mostrou que, cada vez mais, casais em situação financeira estável têm reduzido o número de filhos. Há, ainda, os que acabam chegando à conclusão de que não querem ter filhos.
Para estes, ter um cachorro em casa pode ser extremamente benéfico para humanos e animais. Mas é preciso impor limites. Um cachorrinho não é um filho, e exagerar nos mimos pode prejudicar, inclusive, a saúde e o bem-estar dos peludos, alertam dois especialistas na área, a psicóloga e pedagoga Camila Isoldi Seabra, amante da causa animal, e o adestrador Leonardo Braga, franqueado da Cão Cidadão.
A pedagoga explica que uma das grandes diferenças entre uma criança e um animal de estimação é que estes são menos dependentes. “A criança é totalmente dependente em todas as fases, e o bichinho já vem totalmente evoluído: ele se doa cegamente a seu dono sem desejar absolutamente nada que não seja unicamente ser amado”, afirma.
Esse “amor incondicional” tem seu aspecto positivo e negativo. “Por um lado, os animais têm tornado o humano mais ‘humano’, uma vez que estes nos ensinam realmente o que significa o amor incondicional. Essa relação traz fatores positivos a nós, como aumento de resistência a doenças e melhora no humor, no otimismo, na felicidade”, diz Camila.
O aspecto negativo é quando os limites são extrapolados. “Quando o ser humano não permite que o bichinho tenha seu comportamento natural, pode trazer sérias consequências. Por exemplo, substituir um passeio de coleira por um passeio em um carrinho de bebê pode prejudicar a mobilidade do animal”, afirma a especialista.
Braga concorda com a pedagoga. “Um humano adulto carrega outro humano também adulto e saudável no colo durante o passeio no parque? Você dá comida na boca de outro humano adulto normalmente? Não, mas muitas vezes fazemos isso com os nossos bichos de estimação. Cães e humanos são diferentes, portanto, precisam de atividades diferentes”, afirma o adestrador. Braga explica que esses limites podem levar a problemas no animal, como ansiedade de separação, insegurança, medos e fobias.
Segundo ele, não há diferença no treinamento para cachorros que convivem com outras crianças ou apenas com um casal de adultos. Mas a regra é a mesma: todos os cães devem ser treinados, se possível, ainda filhotes.
Amor é igual?
Do ponto de vista psicológico, amar uma pessoa ou um animal são processos praticamente idênticos, afirma Camila. “O aumento da ocitocina (o chamado ‘hormônio do amor’) quando uma mãe e um filho trocam olhares fortalece os seus laços emocionais. O mesmo ocorre no vínculo entre cachorros e tutores. A interação na troca de olhares, no toque, é algo profundo e faz bem a ambos.”
Outra forma de estimular esse vínculo tutor-cão, aconselha Braga, é com comandos de obediência. “Eles aumentam a liderança dos tutores, dão atividade para o cão, ensinam regras e limites, e evitam alguns problemas de comportamento, além de serem extremamente prazerosos para os cães e tutores, criando um vínculo grande e uma linguagem muito mais clara para ambos”, afirma Braga.
Os dois especialistas dizem que mesmo casais com filhos devem ter bichinhos de estimação. “É de grande valia para o desenvolvimento cognitivo e intelectual da criança ter um animalzinho de estimação a partir dos 5 anos, pois existem estudos comprovando que o contato entre ambos ajudará muito essa criança, inclusive em seu vínculo social”, conclui Camila (Facebook: https://tinyurl.com/y37owswb).