Ansiedade por separação: o que você e seu cão precisam saber

Quantas vezes você foi se despedir do seu cão porque ia fazer uma viagem longa até a padaria e a cena foi digna de uma tragédia grega? Apostamos que, na maioria das vezes, as despedidas foram bastante tranquilas. Porém, alguns donos e alguns cães costumam complicar este momento.

Claro que jamais queremos prejudicar nosso pet e tudo que fazemos ou deixamos de fazer é por amor aos nossos amigos-filhos cães. Mas se você dramatiza estes momentos de “chegadas e partidas”, está na hora de rever a sua conduta para não carregar seu cãozinho de ansiedade.

De onde vem a ansiedade por separação canina

“Os cães são animais sociais, ou seja, a presença de outros membros da matilha traz alimento, conforto e segurança. Para um cão, estar sozinho pode significar uma ameaça à sua sobrevivência”, conta Ana Paula Ribeiro, adestradora da equipe Cão Cidadão, empresa especializada em adestramento em domicílio e em consultas de comportamento animal, de São Paulo.

Para entender a origem desta ansiedade, devemos levar em consideração a necessidade do cão de viver em grupo e seu apego ao homem. Segundo Ana Paula, “o apego ao proprietário pode ter fatores genéticos, assim como pode ser estimulado pelo ambiente em que o animal está. Em alguns casos, os proprietários, sem saber ou perceber, acabam estimulando o apego e, desse modo, piorando a ansiedade”, indica.

Como identificar um cão ansioso

Hoje em dia, a ansiedade é um problema recorrente na vida canina – seja por aspectos da personalidade do cão ou até mesmo pelo modo de vida “moderno”, principalmente nas grandes cidades, em que as pessoas passam mais tempo na rua e no trabalho do que em casa.

“A ansiedade de separação é um problema comportamental comum e atual. Quando o dono não está presente, os cães apresentam comportamentos indesejados, como latidos excessivos, xixi fora do lugar, portas arranhadas, móveis destruídos, escavação, hipersalivação (babar muito), apatia (sem comer ou brincar), alguns chegam a se lamber e até a se mutilar”, descreve a adestradora.

Como lidar com o problema

Existem diferentes graus de sofrimento (estresse e tristeza) em relação à ausência do proprietário ─ tudo vai depender dos hábitos dos tutores, de treinamento e da raça do animal. “Se o cãozinho é muito ligado ao dono, o segue o tempo todo, até mesmo no banheiro, pode ser que ele tenha predisposição a esse problema. É interessante tornar os momentos que ele fica sozinho legais e divertidos. Desta maneira, quando estiver em casa, faça pequenas separações e torne esse momento divertido com o que chamamos de enriquecimento ambiental”, orienta Ana Paula.

De acordo com a especialista, “o enriquecimento ambiental são brinquedos que liberam comida durante a brincadeira e acabam por estimular o cão a brincar. Podem ser os disponíveis no mercado, como ossos mastigáveis, a petball, Kong e quebra-cabeças, ou feito em casa com uma garrafa pet. Podem ser estimulados quando você estiver em casa ou deixados durante a sua saída. Nas primeiras interações cão-brinquedo é importante estar atento para evitar acidentes, pois o cão pode destruir e engolir objetos”, aconselha Ana Paula.

Reveja seu próprio comportamento

É essencial que os tutores mudem sua conduta também. “Nós, humanos, temos a necessidade de fazer longas despedidas e, quando chegamos, grandes festas, principalmente com os nossos cães, e este comportamento pode estimular muito a ansiedade. O cão percebe que estamos saindo (com o menor dos sinais) fica ansioso e, ao longo do tempo sozinho, fica cada vez mais e mais ansioso, esperando a festa que acontecerá quando o dono voltar”, alerta a especialista.

Ana Paula diz que “para ajudar no treinamento, nada de despedidas e, nos reencontros, espere o cão se acalmar para acariciá-lo. Além disso, é interessante treinar a rotina da saída, ou seja, pegar as chaves, trocar de roupa, pegar a bolsa e voltar, guardar tudo no local e não sair. Assim, os pequenos gatilhos que significam ficar sozinho deixam de significar que o tutor irá, por exemplo, sair para trabalhar”, esclarece.

Eduque seu cão ensinando comandos para ajuda-lo lidar com a frustração e a ansiedade. “Ensine o ‘FICA’, de preferência, em cômodos diferentes da casa, horários diferentes, pois assim, o cão vai perceber que o proprietário sai de perto, mas volta, que não é tão ruim assim ficar longe do dono e que, em pouco tempo, ele será recompensado por esperar”, indica Ana Paula.

E, como não podia faltar, promova o desgaste de energia do seu pet. Atividade é sinônimo de bem-estar canino. “Quando o animal for ficar sozinho, é interessante cansá-lo antes. Para tal, o proprietário pode fazer um passeio, ir a um parque ou mesmo brincar de jogar bolinha para o cão, assim ele estará cansado e poderá esperar dormindo”, aponta a adestradora.

Agora, se nada disso funcionar e seu cão for extremamente ansioso, outros tipos de intervenção se fazem necessários. “Se o grau de ansiedade for muito alto, é importante consultar um especialista em comportamento canino. Como uma condição grave, o nível de estresse é muito alto e deve ser devidamente tratado, dependendo da situação e do grau, com medicação (indicada pelo seu médico veterinário)”, conclui a especialista.

 

 

Por: Paula Soncela
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