Antigamente, era comum cortar o rabo dos peludos em um procedimento conhecido como caudectomia. Diferentes motivos justificaram a iniciativa ao longo da história. Na Roma Antiga, os pastores acreditavam que cortar o rabo do cão em seu quadragésimo dia de vida podia prevenir a raiva. Depois, alguns caçadores começaram a realizar o procedimento pensando em prevenir ferimentos. Alguns criadores também começaram a cortar não só a cauda mas também as orelhas dos animais pelo efeito estético. Muitos Dobermans, Boxers, Rottweilers, Poodles e Pit Bulls passaram pelo procedimento. Felizmente, esta prática terrível já foi proibida em muitos países, inclusive no Brasil. Abaixo, vamos entender porque a cauda é fundamental para o cachorro.
“O corte da cauda destes animais obedecia a critérios nada humanitários, como funcionalidades aplicadas à caça, ou mesmo para que o animal não demonstrasse comportamentos indesejados, como cordialidade”, diz Marco Ciampi, presidente da Arca Brasil. Para ele, submeter o cachorro a este tipo de procedimento é muito arriscado. “Basta dizer que estamos falando do corte da extremidade da coluna vertebral, ou seja, uma área complexa, de intensa irrigação sanguínea e ramificações nervosas. Além disso, o rabo ou cauda é muito importante para o equilíbrio das espécies, sua função há milhões de anos.” De fato, como parte da coluna vertebral, sua perda diminuirá o senso gravitacional do animal.
“A caudectomia sempre foi indicada nas raças de trabalho, pois ajudava na função que o animal exercia. Nos cães de caça, ajudava a não espantar a presa. Em cães de rinha, isso diminuía o trauma ao animal. Algumas raças grandes traumatizam muito as caudas e sua amputação ajudava a diminuir este trauma. Hoje, muitos cães não exercem funções, mas têm suas caudas amputadas por estética. Alguns países já proibiram o corte, e o Brasil é um deles”, explica José Manuel Mouriño, médico veterinário e diretor clínico da Pet Place.
Médicos veterinários de todo o país estão proibidos de realizar a caudectomia com finalidade estética devido à Resolução nº 1027 de 18 de junho de 2013, que altera a Resolução nº 877. Esta última continha apenas uma recomendação do Conselho Nacional de Medicina Veterinária (CFMV) para os profissionais não realizarem o procedimento. Em outros países, como Áustria, Bélgica, Croácia, República Tcheca, Estônia, França, Grécia, Hungria, Islândia, Holanda, Noruega, Polônia, África do Sul, Suíça e outros também proibiram a prática.
Expressão pela cauda
Além dos riscos físicos, outra contraindicação para o corte do rabo dos cães diz respeito ao comportamento. É pelo rabo que os cães costumam expressar a alegria de ver o dono, seus medos e inseguranças. Quando o rabo é mutilado, este mecanismo de demonstração das emoções é eliminado e a relação entre o tutor e o bichinho fica prejudicada.
Hoje, a convivência entre cães e tutores é muito diferente daquelas descritas por Mouriño. Na sociedade atual, o animal tem uma função muito mais relacionada à companhia do que à segurança e proteção dos donos. Os cães raramente acompanham atividades de caça. Dessa forma, o corte do rabo torna-se uma prática cada vez mais desnecessária. Felizmente, poucos tutores têm submetido cães a cirurgias por procedimentos estéticos. Muitos têm ponderado se a dor, incômodo e transtornos que a prática causa ao animal compensa. O bem-estar do peludo tem que vir sempre em primeiro lugar!
Ana Carolina Barbosa