O melhor pet para crianças autistas – e porque ele é o cão

Há sempre algo de irrefutável na sabedoria popular. E quando o assunto são nossos animais de estimação, parece não haver dúvida de que os cães são mesmo nossos melhores amigos. Discorda? Preferências pessoais à parte, são eles que há mais tempo compartilham conosco o cotidiano, algo como 33 mil anos, de acordo com estudos recentes.

Por isso, durante terapias com crianças dentro do espectro do autismo, eles são a melhor opção. Quem explica é a psicoterapeuta e psicanalista Silvana Fedeli Prado,  da ONG Patas Therapeutas. “O que acontece é que essas crianças são afetadas principalmente na sua habilidade de socialização, já que o transtorno do espectro autista afeta a linguagem e o processo de aprendizado. Em contrapartida, os cães são animais de que pedem muita atenção, interagem e se comunicam muito bem. Precisam de companhia e afeto”, explica ela.

Essas habilidades caninas são absorvidas pelas crianças. “Faz muita diferença a linguagem corporal que os cães utilizam, e como respondemos a eles, também, por meio do corpo”. Ou seja, ao demonstrar se estão felizes, calmos, agitados, os cães mostram outras maneiras não verbais com as quais as crianças podem se comunicar. “Além disso, existe um benefício muito grande na relação familiar, porque com esse animal melhora a dinâmica da família, que se expressa mais ao cuidar do cachorro: dá comida, água, banho, tem de sair pra passear… todos esses momentos fazem com que a família se aproxime mais, e isso afeta positivamente a criança”.

O contato com o mundo exterior e outras pessoas é benéfico ainda por outras razões. Um passeio cria situações de estímulo cujo possível estresse causado no autista seja contornado pelo cão. “O autista muito provavelmente não falará com alguém que o aborde, mas se essa pessoa se dirigir ao cão, ele possivelmente falará em nome do cão, o que é importante para o desenvolvimento social e de linguagem”.

Mas qual o cão ideal? Na verdade, isso não existe, desde que o animal seja treinado e tenha uma personalidade adequada para o convívio. “Antes falava-se que era importante escolher cães maiores, mais parrudos. Hoje, sabemos que cães menores – sempre treinados e dessensibilizados para tolerar toques como um animal terapeuta faz – também estão aptos para a tarefa. É sempre um contraponto muito legal para a vida dessa criança lidar com esse outro”, diz Silvana.

Alternativa felina

Apesar da preferência pelos cães, os gatos, cada vez mais populares, também têm ganhado espaço. “Os cães interagem muito e possuem muitas semelhanças conosco. Mas ao mesmo tempo que apreciam a atenção e companhia, também dão mais trabalho na hora de cuidar. Algumas famílias procuram gatos como alternativa e pode dar muito certo”, explica a terapeuta. “A alternativa que vai além do cão é importante porque abre também outras possibilidades para as famílias que às vezes não possuem tanto tempo ou espaço para manter um cachorro. É importante que ampliemos a cabeça dos pais. Conheço uma família com um autista já adulto que adotou um gato, porque não dariam conta de um cão. Esse jovem adulto tem entre 18 e 20 anos, e interage muito com o animal”.

 

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