Quem tem um animal de estimação deve estar sempre em busca de melhorar a qualidade de vida do pet. Ainda que eles tenham se tornado parte das famílias, cães, gatos e outras espécies têm necessidades comportamentais específicas que precisam ser supridas para garantir o bem-estar.
O enriquecimento ambiental é uma maneira de proporcionar um espaço mais estimulante, incentivando o animal a manifestar comportamentos naturais, como farejar e cavar, e a exercitar outras capacidades que acabam sendo deixadas de lado quando um animal passa a viver dentro de casa, tal como resolver problemas, já que ele não precisa desenvolver estratégias de sobrevivência.
Por exemplo, cães domesticados estão acostumados a receber duas porções de ração diariamente em uma vasilha. No entanto, na natureza, seus antepassados passavam horas atrás de uma presa, em uma rotina envolvendo muito faro, longas caminhadas e outras atividades que gastavam energia.
Leonardo Ogata, adestrador e fundador da Tudo de Cão, explica que o enriquecimento ambiental surgiu por meio de animais de cativeiros, principalmente nos zoológicos, onde os animais eram tratados apenas com água e comida. Porém, a qualidade de vida era baixa e eles começaram a desenvolver uma série de problemas de saúde e comportamentais.
“Os zoológicos começaram a arrumar formas para que os animais manifestassem comportamentos naturais, como caça, busca por alimentos, estarem em alerta para predadores e outras adaptações para tornar o recinto mais estimulante. Quando trazemos para a nossa realidade, é importante entender quais comportamentos naturais o animal não consegue manifestar adequadamente”, assinala.
Tipos e exemplos de enriquecimento ambiental
Ainda que seja um conceito novo e ainda tenha discussões sobre quais atividades podem ser consideradas enriquecimento ambiental, a ferramenta pode ser dividida em cinco tipos:
- Social: socialização não apenas com a mesma espécie, mas também outros animais e humanos;
- Alimentar: incentivar a busca por alimentos, ou seja, não oferecer a ração sempre na vasilha;
- Sensorial: atividades que estimulam os sentidos, principalmente o faro;
- Físico: viabilizar atividades físicas e interação com o ambiente e
- Cognitivo: atividades que trabalham a mente e a parte intelectual, com tarefas que estimulam a memória e o raciocínio.
A divisão facilita a compreensão de como aplicar o enriquecimento ambiental no dia a dia. Porém, na prática, as atividades costumam abranger mais de um grupo.
Por exemplo, ao esconder a ração pela casa para que o cachorro saia em busca do alimento, ele também está exercitando os sentidos, como o faro. Se os grãos estão escondidos em uma caixa, ele trabalha a cognição para desvendar como acessar a ração, e a parte física, para rasgar ou abrir o recipiente.
Ogata, da Tudo de Cão, dá mais dicas: “De longe, a melhor maneira de estimular a cognição é por meio do treino. Nele, o animal trabalha a mente para aprender comandos e também cria uma conexão com a pessoa. No sensorial, as ervas aromáticas são ótimas para estimular o olfato.”
Hoje, o mercado dispõe de acessórios para facilitar o enriquecimento ambiental no dia a dia. Há tabuleiros que exigem a resolução de um quebra-cabeça para liberar a comida, bolas que dispensam ração conforme giram e outros apetrechos que podem ajudar quem deseja melhorar a qualidade de vida do pet.
O adestrador reforça que o enriquecimento físico também inclui a promoção de uma ambiente seguro para o pet, onde ele saiba que pode descansar. Além de limitar o acesso ao portão e às janelas – que mantêm o animal hiperestimulado –, a recomendação é aderir ao uso cotidiano da caixa de transporte – quando o animal está habituado, se torna um espaço onde ele sabe que pode relaxar em segurança.
Enriquecimento ambiental na prática
Para saber quais atividades são as mais pertinente para cada bichinho, é necessária uma análise individual. Algumas raças de cães foram geneticamente selecionadas para atividades específicas, portanto, têm necessidades diferentes. Os beagles, por exemplo, são conhecidos por serem caçadores. Então, têm uma necessidade maior por atividades que estimulam o faro.
“O primeiro passo é começar a olhar para a rotina e fazer uma análise crítica do quanto esse animal está sendo desafiado diariamente. É preciso ter a visão de que ele não escolheu viver em uma casa, então, será que a rotina dele está sendo justa? O enriquecimento ambiental é uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida, sempre com foco no bem-estar”, afirma Ogata.