Riscos do diabetes em cães

O cão vem perdendo peso mesmo comendo mais, cansando-se rapidamente, urinando a toda hora e bebendo muita água? Se sim, pode ser que nosso amigo tenha diabetes – a mesma doença crônica que cresce entre os humanos, já acometendo uma em cada 11 pessoas no mundo*. O avanço também ocorre na população canina.

 

“Não existem estatísticas precisas, mas realmente constatamos um aumento nos cães diagnosticados com diabetes”, afirma Priscila Montanheri, médica-veterinária especializada em endocrinologia. “Hoje nossos cães têm mais suporte e apresentam uma longevidade maior. Logo, também apresentam mais as alterações comuns da velhice”.

 

Beagles, dachshunds, golden retrievers, labradores, poodles, pugs, samoiedas, schnauzers, spitze e terriers australianos parecem ser mais vulneráveis à doença. No entanto, o diabetes pode se manifestar em qualquer raça, especialmente a partir dos cinco anos. “Fêmeas não castradas, machos castrados e cães em geral com problemas hormonais apresentam uma maior predisposição”, descreve a especialista.

 

O motivo da doença é a produção insuficiente de insulina pelo organismo e/ou a incapacidade de esse hormônio exercer seu efeito – promover a entrada da glicose nas células, a fim de que ela possa ser utilizada como fonte de energia. O resultado é o aumento da glicemia (açúcar no sangue).

 

Assim como os humanos, os cães podem desenvolver diabetes por uma questão genética, ou seja, nascerem com propensão à doença. “Ainda não temos comprovação de que a obesidade pode provocar o diabetes no cão, porém ela pode prejudicar o controle da doença”, explica Priscila.

 

A prostração e a perda de peso costumam ser os primeiros sinais, mas o diabetes, se não for tratado, desencadeia problemas sérios de saúde. A visão pode sofrer com a catarata e até ser totalmente comprometida. A capacidade de cicatrização é prejudicada. Como custam a sarar, ferimentos correm mais riscos de contaminações.

 

A cetoacidose diabética é outro perigo. Níveis elevados de glicose podem ocasionar acúmulo de corpos cetônicos (degradação de gordura pelo emagrecimento) no sangue. “Essa situação tende a provocar prostração, desidratação, vômitos, diarreia e perda de peso do cão, podendo evoluir até ao óbito”, detalha Priscila.

 

Conforme explica a profissional, o diagnóstico é realizado através do histórico clínico, exames físicos e laboratoriais, como glicemia no jejum e urinálise, entre outros que o médico veterinário deverá solicitar.

 

O diabetes não tem cura, mas pode ser controlado. Isso é feito nos cães da mesma forma que nos humanos: com injeções regulares de insulina, alimentação controlada e exercícios físicos. Tudo isso, claro, sob a orientação de um veterinário. Com os devidos cuidados, os bichos podem viver bem e por muito tempo.

 

O acompanhamento médico é fundamental. Antes de tudo, para determinar o tipo de insulina e a posologia adequados para o animal. São fatores que variam dependendo da dieta e do grau de atividade do cão. “As insulinas utilizadas em humanos podem ser utilizadas em cães, porém existe insulina específica para os pets”, comenta Priscila. “O médico-veterinário endocrinologista é quem saberá escolher a insulina indicada para cada caso”.

 

A efetividade da insulina depende da manutenção de uma rotina. O cão deve comer uma quantidade regulada de ração, e sempre nos mesmos horários, além de praticar a mesma intensidade de exercícios todos os dias.

 

Definir a dose de insulina adequada a um cão pode demandar diversos testes laboratoriais e levar algumas semanas. Geralmente as fêmeas diabéticas são castradas para seus hormônios não prejudicarem a ação da insulina injetável. Os procedimentos para aplicação da substância são ensinados ao tutor pelo veterinário.
O tutor deve seguir procedimentos rígidos para armazenar, manipular e administrar a insulina. É preciso evitar a todo custo atrasos e, pior ainda, repetições das doses – por uma falta de comunicação entre membros da família, por exemplo.

 

O excesso de insulina pode causar hipoglicemia (nível muito baixo de glicose no sangue). Quando isso acontece os cães ficam debilitados, podendo ficar em estado de torpor, entrar em coma, ter convulsões e até morrer. “Em alterações mais graves é necessária hospitalização imediata”, alerta Priscila.

 

Se o tutor tiver disposição e o médico-veterinário recomendar, um medidor de glicose pode ser de grande valor para monitorar a condição do cão. Equilíbrio é a palavra-chave. “O corpo trabalha de forma adequada quando há manutenção de valores normais de glicemia. Tanto a falta quanto o excesso de açúcar no sangue provocam alterações sistêmicas”, afirma a médica-veterinária.

 

* Estatística da Federação Internacional de Diabetes (IDF).

 

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