Nós somos o que comemos e todos os outros bichos também se encaixam nesta máxima. Por isso, é muito importante que os tutores de animais se empenhem em prover alimentação adequada para seus pets, especialmente para os felinos, que são extremamente exigentes na hora da comida.
No mercado pet, encontramos dezenas e dezenas de tipos de ração, papinha, petiscos e guloseimas para agradar os animais. Além destes alimentos, também existem as rações especiais, que possuem fórmulas específicas e diferenciadas.
Ao se deparar com todas essas opções e informações, é provável que você se pergunte: mas qual a dieta ideal para o meu bichano e para que servem estas tais rações especiais?
Alimentação balanceada e metabolismo
“Todo alimento fornecido como refeição principal para o gato deve ser completo, contendo proteína, gordura, carboidratos, vitaminas e minerais que atendam as necessidades nutricionais do animal, especificamente para a fase de vida que ele se encontra. A recomendação nutricional é definida por instituições regulamentadoras as quais empresas de alimento comercial e nutrólogos seguem”, esclarece Brana Bonder, médica veterinária especializada em nutrição e nutrição clínica de cães e gatos, mestranda em clínica veterinária pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP).
“Gatos possuem uma série de peculiaridades metabólicas e, dentre elas, podemos iniciar falando sobre a utilização de carboidratos, pois causa muita controvérsia. Embora não exista uma recomendação mínima estipulada e gatos se adaptem bem a dietas de baixo índice de carboidrato, os mesmos digerem de maneira efetiva amidos cozidos. Além disso, as fibras, que são carboidratos complexos, são benéficas à saúde intestinal dos felinos”, indica a Dra. Brana.
Também existem alguns aminoácidos que o organismo dos bichanos não consegue sintetizar adequadamente – chamados de aminoácidos essenciais – que devem ser fornecidos pela dieta. “Na dieta felina, existe maior necessidade de taurina, arginina e metionina, sendo este último o precursor do aminoácido cistina, que também é considerado de alta demanda. A deficiência de qualquer um destes aminoácidos provoca prejuízos ao animal. A falta de taurina, por exemplo, promove cardiomiopatia dilatada. Já a carência de arginina pode provocar incoordenação motora, espasmos, hiperatividade, cianose, entre outros problemas”, descreve a especialista.
A gordura é item indispensável na alimentação dos bichanos, pois, além de ser fonte de energia, ela também fornece os ácidos graxos essenciais da série n-6 (ômega 6) e n-3 (família ômega 3).
Segundo a Dra. Brana, “assim como outros carnívoros estritos, gatos têm uma necessidade especial de ácido aracdônico, principalmente em fases de gestação, lactação e crescimento, porque não conseguem sintetizar esta substância em quantidades adequadas. Da família n-3, podemos citar o EPA e DHA como sendo essenciais, sendo que a dieta deve ter uma proporção adequada de ômega 6 e 3”, explica.
Vale lembrar que diferentemente de nós, os gatos não produzem vitamina D por meio da exposição aos raios ultravioletas do Sol, já que não possuem o precursor dela na pele (assim como os cães também não). Desta forma, também se faz necessário incluir uma fonte de vitamina D na dieta dos bichanos.
“Acho importante destacar que gatos não conseguem todos os nutrientes necessários de fontes vegetais ou seus subprodutos e sua dieta deve conter ingredientes de origem animal – uma vez que muitos destes nutrientes essenciais têm como fonte o tecido animal. Caso seja estabelecida uma dieta à base de cereais, deve ser dada atenção especial à suplementação para garantir o fornecimento de todos os nutrientes”, ressalta a especialista.
Rações secas, úmidas e petiscos
Apesar de muitos tutores não saberem desta informação, o alimento comercial úmido (enlatado) é um alimento completo. A principal diferença entre a ração seca e a úmida é o teor de água, presente em maior quantidade nas latinhas e sachês da segunda opção.
Até seria possível alimentar seu gatinho apenas com a comidinha úmida, porém, a quantidade necessária para atender à necessidade calórica do animal é maior, pois a umidade faz com que a densidade calórica deste tipo de alimento seja em menor quantidade.
Todavia, Dra. Brana recomenda que “os gatos sejam acostumados desde filhotes a comer o alimento úmido, uma vez que eles não bebem tanta água de maneira voluntária. Com a introdução do alimento úmido, você induz o aumento da ingestão hídrica”, aponta.
Já os petiscos não são considerados um alimento completo. Segundo a veterinária, eles podem assumir várias formas e tamanhos e ter diferentes sabores, mas estão mais relacionados com o fato do tutor querer agradar o seu pet do que com o seu valor nutricional. Eles podem corresponder no máximo a 10% da dieta do animal.
Rações especiais
De acordo com a especialista, as rações terapêuticas têm o propósito de servir como tratamento coadjuvante a determinadas doenças. “Cada vez mais os veterinários e tutores percebem a importância do manejo alimentar adequado com o objetivo de retardar a progressão de doenças e oferecer qualidade de vida aos animais. Inclusive, em determinadas situações, a implementação da dieta adequada é essencial para a resolução de enfermidades. Para os gatos no Brasil, temos disponíveis alimentos terapêuticos designados ao tratamento de doenças gastrointestinais, doença renal, obesidade, diabetes, sensibilidade alimentar, desordens de pele, urolitíases e para pacientes críticos”, cita a nutricionista.
Cálculos urinários
A indicação da ração especial na dieta se dará de acordo com o perfil nutricional referente à demanda da doença. “Por exemplo, cálculos urinários de estruvita são passíveis de diluição pela alimentação por meio da acidificação da urina (uma vez que esse urólito se forma em pH alcalino) e de aumentar a ingestão hídrica do gato para tornar a urina menos concentrada. No entanto, se usado de modo indevido, ela pode aumentar as chances da formação de cálculos de oxalato de cálcio, que se formam em pH ácido. Essa mudança no pH urinário que o alimento é capaz de promover está correlacionada com o balanço de cátions e ânions da dieta”, esclarece Dra. Brana.
Diabetes e obesidade
“Já para gatos obesos e/ou diabéticos, a dieta tem menor teor de gordura, de moderado a alto teor de fibras, maior teor de proteína e de vitaminas e minerais, de modo a não induzir deficiências desses elementos quando estabelecida uma restrição calórica. Esse perfil tem o intuito de prevenir perda de massa muscular, minimizar as alterações lipídicas encontradas nesses animais, controlar variações na glicemia nos gatos diabéticos e evitar ganho de peso”, ilustra Dra. Brana.
Doença renal
Outro exemplo é a utilização de alimentos terapêuticos na doença renal, muito comum nos felinos. “Ao contrário do que se propaga, a proteína não causa doença renal; entretanto, dependendo do estágio da doença, se faz necessário a restrição proteica. Mas é importante ressaltar que não se deve tirar completamente a proteína da dieta, pois a demanda proteica do organismo ainda continua para sua manutenção e se ela não vier pela dieta, o animal cataboliza suas reservas corporais, o que acelera e piora a condição muscular do gato. Além disso, o que pouco se fala é que o principal colaborador para a progressão da doença renal é o fósforo. Sendo assim, este alimento tem restrição de proteína e fósforo”, revela a médica veterinária.
Desta forma, cada alimento tem uma função distinta e um perfil nutricional desenvolvido para minimizar as alterações metabólicas provocadas pelas doenças. “Contudo, estes alimentos devem ser oferecidos somente sob a orientação do médico veterinário, pois ele saberá qual é o mais indicado para o caso do seu gatinho”, frisa a nutricionista.
Portanto, consulte o veterinário do seu peludinho e sempre ofereça uma dieta adequada para o seu bichano.