Jiboias, teiús, iguanas, jacarés-do-papo-amarelo, jabutis e tigres d’água são alguns dos animais utilizados para auxiliar o tratamento de pessoas com diferentes transtornos. Esses répteis podem não agradar a todos os públicos logo de cara, mas a convivência com eles já é reconhecida por muitos terapeutas como benéfica, e o tratamento tem até nome: reptilterapia. No caso do tratamento de crianças com autismo, os resultados são notáveis.
“Já observamos uma enorme diferença no comportamento de crianças autistas em contato com répteis. O tratamento acalma e aumenta o tempo de atenção dos pequenos”, diz Andrea Ribeiro, fonoaudióloga da ONG Walking Equoterapia, pioneira nesse tipo de tratamento no Brasil. Entre os casos bem-sucedidos, Andrea cita o das crianças Gael* e Tábata*. A reptilterapia conseguiu melhorar o nível de atenção, acalmar Gael e ajudá-lo também a desenvolver a fala e a alfabetização. Já Tábata aprimorou a fala, completou a alfabetização e teve uma melhora significativa de comportamento.
Andrea trabalha com reptilterapia há dois anos e meio, desde que estudou o método na Inglaterra. Atualmente, ela é coordenadora de equoterapia, pet terapia e reptilterapia da ONG. “Não apenas crianças autistas, mas todos os pacientes que participam da terapia com répteis têm uma melhora emocional, especialmente na autoestima, autoimagem e autoconfiança”, relata. Outros benefícios são a melhora na cognição, na fala e na interação com outras pessoas. “Como o réptil é um animal menos invasivo que um cão, por exemplo, a relação estabelecida no tratamento não é de afeto, mas de confiança”, diz.
Outro bom exemplo listado por Andrea é o de Antônio*, de 70 anos, vítima de sequelas graves de derrame cerebral (AVC), que não se comunicava há um ano, mas voltou a falar no primeiro dia de tratamento com répteis. Carla*, de seis anos, fora diagnosticada com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), mas o quadro melhorou em seis meses de reptilterapia e, hoje, ela está sendo alfabetizada. Outro caso é o de Laura*, vítima de paralisia cerebral, que recebeu tratamento e observou-se melhora no tônus muscular e nas funções de mastigação, respiração, sucção e deglutição.
O tratamento surte efeito e está sendo cada vez mais utilizado. No entanto, Andrea chama a atenção para o fato de que ele só deve ser realizado por pessoas qualificadas, que tenham feito cursos sobre o tema, e que a frequência da terapia deve ser semanal. Ela também ressalta que a reptilterapia só pode ser realizada quando acompanhada por um biólogo, e um médico-veterinário precisa avaliar o animal a cada três meses, pelo menos. Outro ponto importante levantado por Andrea é que todos os animais utilizados nos tratamentos devem ser legalizados pelo IBAMA.
Contribuições de cada animal na reptilterapia
Cada espécie tem uma função no tratamento com répteis, explica Andrea. “Não existe uma receita bolo. É preciso conhecer o paciente em questão, a finalidade de cada réptil e usar os animais com seus devidos objetivos traçados em planos terapêuticos”, orienta.
Abaixo, conheça algumas características dos animais nos tratamentos:
Cobra: é utilizada para acalmar o paciente, melhorar o tônus muscular, facilitar a fala, a alfabetização. Além disso, melhora a atenção, autoestima, autoimagem, autoconfiança e a sensibilidade.
Jacaré: é utilizado na terapia para trabalhar limites, para estimular o raciocínio matemático, e melhorar a sensibilidade.
Teiú: é utilizado para criar senso de responsabilidade no paciente, uma vez que é necessário preparar o alimento do animal, dar banho e retirar escamas. A terapia com o teiú pode incluir outros animais, como cobra, cágado, iguana, jabuti e jacaré.
Jabuti e cágado: são animais que auxiliam a passar o conceito de rápido e devagar para o paciente. Além disso, podem ser utilizados conjuntamente com teiús, iguanas e espécies de jiboias.
Iguana: pode ser utilizada para todas as finalidades listadas nos itens acima, mas com um destaque – ela promove a melhora de equilíbrio.
*Nome fictício para proteger a identidade do paciente.