Lançada em 2016, a animação Pets – A Vida Secreta dos Bichos mostra um outro lado dos nossos queridos animais de estimação quando estão sozinhos em casa. Sozinhos, sem seus donos por perto, eles aprontam todo tipo de confusão no filme. Mas o que será que eles realmente fazem na vida real?
Conversamos com Carolina Rocha, médica-veterinária e mestre em comportamento animal, fundadora da Pet Anjo, para entender o comportamento dos pets nestes momentos. E, por um longo período, a verdade é que pouca coisa acontece. Diversos animais de estimação precisam de um longo período de descanso, maior do que o dos humanos. Os gatos dormem quase dezesseis horas por dia, e os cães, de 12 a 14 horas, só para citar algumas espécies.
“É um padrão de muitos animais, eles têm que dormir mais”, explica Carolina. “Primeiro, por conta de sua história evolutiva, pois no passado gastavam muito mais energia para conseguir comida do que hoje. Andavam muitos quilômetros por dia para se alimentar, e precisavam de longos descansos para restabelecer sua energia”.
Além disso, o sono dos animais é diferente. “Eles têm um sono mais leve do que o nosso. É só observar o gato, por exemplo, que acorda com qualquer barulhinho, pois fica bem atento ao ambiente”. Com os pequenos roedores, não é diferente. Algumas destas espécies são animais noturnos, como a Chinchila, então vão passar grande parte do dia dormindo. Somente estarão ativos à noite.
Mas não pense que é tudo calmaria quando os pets estão sozinhos. Sobra muito tempo para brincadeiras também. “Este é um período de exploração dentro da casa. Tanto os cães quanto os gatos e algumas outras espécies têm um sistema neuronal de exploração, e isto é muito importante para eles, é um comportamento natural”.
A exploração dos bichinhos envolve conhecer o ambiente onde estão. Como Carolina conta, “é muito comum, assim que a pessoa sai de casa, os cães irem procurar algo novo e ‘escanear’ a casa inteira. Checar se ficou alguma porta aberta que dê acesso a um cômodo proibido; se alguma comida foi esquecida ao seu alcance, algum brinquedo, e assim por diante”.
Além disso, os cães vão ter o comportamento de morder. Não adianta reclamar que, sozinho, ele arranha e morde mobílias, destruindo tudo. É preciso deixar brinquedos específicos para ele morder, destruir e se manter ocupado. Assim como os gatos. “Os felinos gostam de arranhar para marcar o território, faz parte do comportamento deles. Também vão roçar o rosto nos móveis para este fim, utilizando a lateral de seu rosto que possui uma glândula que solta cheiro para marcar o espaço”.
Já os pequenos roedores, ao contrário dos gatos, não são predadores. São presas, então é comum eles construírem pequenos ninhos dentro das gaiolas. “No período ativo deles, eles também irão fazer exercícios, e é importante fazer a estimulação mental destas espécies. Dar brinquedos para elas morderem e roerem. Ter alimentos escondidos é sempre interessante. Por exemplo, uma bolinha que ele deve girar para tirar a comida lá de dentro”.
Carolina, inclusive, enfatiza a importância de brinquedos para todos os animais de estimação. “As pessoas acham que o brinquedo para o animal é somente para os filhotes. Até os adultos humanos têm seus ‘brinquedos’, como celulares e videogames. São estimulações lúdicas e comportamentais para colocarmos nossas frustações e diminuir nosso estresse. Os brinquedos ajudarão o animal a lidar melhor com a ansiedade de não estar com o dono perto dele, em casa”.
Este, aliás, é um problema cada vez mais comum que os pets têm enfrentado. Os animais estão muito apegados aos humanos, e ficam ansiosos esperando pelo retorno deles. Muitos cães, quando o dono sai, começam a farejar, arranhar e morder a porta. Ficam ofegantes e começam a latir, e aí que começam as reclamações dos vizinhos. “Esquecemos de treinar a independência deles, porque gostamos que os animais sejam dependentes da gente”, adverte Carolina. Por isso, é importante preparar o lar de acordo com as necessidades do seu pet para que eles possam ficar tranquilos e felizes quando estão sozinhos.