Conheça os cães que dão suporte emocional no sistema judiciário

Os animais de estimação, cada vez mais, tornam-se parceiros dos seres humanos em contextos que, até pouco tempo, eram impensáveis ou destinados somente a cenas de desenhos animados. Dentre os exemplos mais populares estão a Terapia Assistida por Animais e as empresas que liberam seus funcionários a levarem cães e gatos para o expediente. Além de descontrair o ambiente, já existem estudos que comprovam teorias de que os animais nos fazem bem, especialmente quando passamos por momentos de estresse, pressão ou traumas.

Ultimamente, nos Estados Unidos, uma iniciativa tem levado cães também aos tribunais e outros ambientes do sistema judiciário, com a ideia de proporcionarem apoio emocional aos funcionários e usuários das cortes norte-americanas. Trata-se da Fundação Courthouse Dogs, que tem como atividade educar membros das profissões jurídicas e o público em geral sobre os benefícios da convivência com cães e guiar agências governamentais e outras organizações em programas de melhores práticas para termos o acompanhamento canino. Atualmente nos EUA existem 113 cães trabalhando em 34 estados.

Celeste Walsen, veterinária e diretora-executiva da entidade, explica que se envolveu com a Courthouse Dogs após conhecer a fundadora, Ellen O’Neill Stephens, em uma aula de treinamento de cães de assistência. “Mas a ideia de cães que ajudassem vítimas e testemunhas no sistema judicial era um conceito ainda novo em 2004, quando nos conhecemos”. Para ela, o trabalho destes cães não é menos do que admirável. “A presença de um cão calmo frequentemente faz com que seja possível para uma criança contar seu lado da história. Cães tem um relacionamento único com humanos. Até mesmo bebês sentem-se atraídos pelos cães, mais do que por outros animais. A presença de um cão tranquilo abaixa nossa pressão e batimento cardíaco. Quando fazemos carinho em um cão, por exemplo, aumentam nossos níveis de oxitocina, o que reduz o cortisol, e isso nos permite ficar mais calmos. Em uma testemunha, isso faz com que consiga falar com tranquilidade”, diz.

“Alguns anos atrás recebemos um pedido para que levássemos nossa cadela Molly a um tribunal militar onde uma criança de 12 anos estava se preparando para testemunhar contra seu pai, que há anos abusava da menina. Quando chegamos, a criança estava no auditório vazio, enquanto o promotor fazia as perguntas que ela deveria responder no dia seguinte, em frente ao júri. A menina estava chorando e escondendo o rosto com as mãos. Quando o promotor perguntou se ela gostaria de fazer uma pausa e conhecer a Molly, toda feição da criança mudou, e ela praticamente pulou da cadeira para abraçar a cadela, com quem brincou por alguns minutos. Quando voltou ao banco de testemunha, segurando a coleira da Molly e com a cabeça do animal em seu colo, ela conseguiu olhar diretamente para o promotor e respondeu todas as questões. No dia seguinte, ela conseguiu falar durante o julgamento, e o pai foi condenado por abuso de menor”, recorda-se Walsen.

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 Quais são as características de um “cão do tribunal”?

“É um cão atencioso, mas que não é insistente. Essa característica é importante, porque um julgamento não pode ser interrompido”, diz o site da fundação. Normalmente, raças como o Labrador e o Golden Retriever são as mais utilizadas por seu temperamento relativamente tranquilo e facilidade de socialização. O tutor do cão é sempre um profissional ligado à justiça criminal, como detetives, investigadores e promotores assistentes. O cão vive com esse cuidador, responsável pelos cuidados do cachorro. Dentro do espaço de trabalho, uma ou duas pessoas também devem estar habilitadas a lidar corretamente com o cão, no caso de ausência do primeiro cuidador.

A iniciativa está se espalhando. Depois do Canadá, o Chile também passou a adotar os chamados “cães jurídicos”. Agora, é esperar para que esta prática possa ajudar crianças, jovens, dependentes químicos e outras populações mais vulneráveis também no Brasil.

 

André Spera
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