A chegada de um cão ou gato é um momento importante e requer dedicação. As famílias costumam focar em tarefas básicas, como alimentação, ensinar a fazer xixi e cocô no lugar certo, e brincadeiras. Porém, também é importante investir na socialização do pet para garantir o bem-estar e a convivência harmoniosa com outros animais, seja na própria casa ou na rua.
Ao contrário do que algumas pessoas acreditam, socializar o pet não é apenas expô-lo a outros animais. O processo deve começar quando ele ainda é filhote, na chamada janela de socialização, que vai dos 45 dias ao quarto mês no caso dos cachorros e, para os bichanos, dos 15 dias até a sétima semana de vida.
“Nesse período, o filhote precisa ser exposto gradualmente a diversos estímulos, sempre criando boas associações. O objetivo é que ele conheça coisas diferentes e se torne um adulto sociável, confiante e tranquilo com pessoas, animais de outras espécies, objetos e barulhos”, explica Juliana Nishihashi, consultora comportamental e fundadora da Cão com Manteiga.
Vale destacar que a janela de socialização é uma fase em que o animal é mais sensível e pode facilmente criar associações, tanto positivas quanto negativas. Por isso, é fundamental respeitar o tempo e a personalidade de cada pet, evitando a criação de medos e traumas pela exposição exagerada. O isolamento nessa fase também pode ser prejudicial.
Primeiros passos
Quem tem um cãozinho, pode começar a socialização levando-o a uma rua ou praça mais vazia para que ela possa observar o movimento de longe. Enquanto o ciclo vacinal não estiver completo, é importante manter o pet no colo ou em uma bolsa, sem contato com o chão e animais desconhecidos para evitar doenças.
Por outro lado, socializar um gato na rua não é o ideal. A recomendação é que o processo seja feito em casa, com o felino separado do outro animal por uma porta ou portãozinho.
“Para as duas espécies, é importante saber que socializar não significa brincar, nem mesmo se aproximar. No início, só olhar e sentir os odores já basta. Usar petiscos e brinquedos para criar associações boas com o outro animal é uma ótima tática”, afirma Juliana.
Quando o pet já estiver acostumado a observar outros animais de longe, é a hora de incentivar o contato mais próximo com animais conhecidos, saudáveis, vacinados, vermifugados e sabidamente sociáveis com comportamento mais tranquilo.
“Não precisamos estimular contato físico ou brincadeiras se os animais estiverem reticentes, basta reforçar com petiscos por estarem no mesmo ambiente. Se perceber sinais de medo ou tensão, como tremores, esquiva, congelamento e fuga, a interação deve ser interrompida”, detalha a consultora comportamental.
Perdi a janela de socialização. E agora?
As famílias que perderam a janela de socialização ou que desconhecem o passado do pet, como quando ele foi adotado adulto, ainda podem socializá-lo com outros animais. O processo é mais trabalhoso, mas cachorros e gatos são capazes de aprender novos comportamentos a vida toda.
“O animal que perde a fase de socialização pode agir de forma indesejada, com euforia, excitação e até agressividade, por não ter aprendido as formas corretas de interagir. Nestes casos, o acompanhamento profissional é fundamental para auxiliar na modificação comportamental. Com o processo adequado, o pet pode se tornar mais sociável, sempre levando em conta seu histórico e temperamento”, orienta Juliana.
Existe pet antissocial?
É comum considerar que o pet bem socializado é aquele popularmente chamado de “vereador”, que interage com todos os animais e também com os humanos. Contudo, assim como as pessoas, cada cão ou gato tem um temperamento próprio, ou seja, alguns são mais extrovertidos e impulsivos, já outros são mais seletivos.
“Mesmo que o pet não goste de brincar ou de contato físico com animais e pessoas, o desejável é que ele consiga simplesmente conviver de forma neutra com tranquilidade, e isso pode ser uma realidade por meio da socialização adequada. O que entendemos por pet ‘antissocial’ geralmente está associado a comportamentos defensivos ou agressivos para evitar contato com outros, e isso não é desejável”, assinala Juliana.
A consultora comportamental adiciona que é compreensível que alguns indivíduos sejam mais reservados e não queiram contato físico ou interações mais próximas com humanos e outros bichos.
Sinais de que seu pet foi bem socializado
Segundo Juliana Nishihashi, um pet bem socializado é aquele que conhece contextos e situações variadas, assim como pessoas, animais e sons, com os quais convive cotidianamente em casa ou nos passeios fora dela. “Não é uma expectativa real achar que um cão que vive na cidade reaja naturalmente ao ver, de repente, um boi”, exemplifica.
Em relação à relação entre o indivíduo com outros animais, é importante que ele saiba conviver de forma neutra e harmoniosa, e também brincar ou fazer contato físico da maneira adequada e em momento oportuno.
“Entre animais da mesma espécie, eles devem compreender os sinais comunicativos e saber agir de acordo. Por exemplo, alguns cães não entendem o rosnado como um pedido de ‘pare’ e continuam tentando interação, podendo gerar desconforto e outras situações indesejadas, como uma briga. Quando o pet é socializado na infância com outros animais sociáveis, esse ‘diálogo’ se torna natural”, acrescenta a consultora comportamental da Cão com Manteiga.
A boa socialização também inclui a aceitação do manuseio corporal quando necessário, além do uso de coleira com identificação, peitoral e guia sem problemas.