O filme “Sempre ao seu lado” retrata a história de um cãozinho que acompanhava o seu tutor todos os dias até a estação de trem e o esperava voltar do trabalho. Uma tarde, infelizmente, ele não retornou para casa. E, assim, durante nove anos, o cão não deixou a estação e ficou aguardando a volta de seu companheiro que havia falecido. Essa narrativa, inspirada na história real do cachorro japonês Hachiko, acontece com mais frequência do que pensamos. Para o Dr. Rodrigo Mainardi, médico-veterinário e Tesoureiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), os animais também passam pelo processo de luto, apresentam manifestações de tristeza e de sofrimento, assim como os seres humanos.
Quem já passou pela perda sabe como é doloroso. “O processo de luto dos animais é muito parecido com o nosso, independentemente da raça, idade, e, isso se dá não apenas nos cães e gatos, mas há relatos de que cavalos e outras espécies também sentem o sofrimento do luto. Quando o bichinho cria um vínculo muito próximo do seu tutor, vê-se bem suas emoções, quando ele quer brincar ou não, ou se está feliz ou não. Assim, quando o animal perde o seu companheiro, isso é sentido mais fortemente por conta do grande convívio entre os dois. Da mesma forma que, quando o relacionamento entre os dois não é tão marcante, o sofrimento e a tristeza acabam tendo proporções menores. O tempo também conta. Se o bicho vive dois anos com seu dono, ele sente a perda, mas não tanto quanto um que conviveu 15 anos”, analisa.
O médico-veterinário acredita que a forma com que os animais demonstram a perda é muito parecida com a do ser humano. Entre os primeiros sentimentos que notamos estão: depressão, apatia, o animal fica muito quieto, parado, tristeza, perda de apetite e, às vezes, o pet não quer que as pessoas fiquem próximas a ele e não quer contato. A impressão que temos é que o bicho quer passar por esse luto e, de certa forma, até ficar um pouco deprimido.
O tempo do luto varia muito de animal, depende da interação que mantinha com o ex-tutor. É importante dar tempo para que ele se recupere e comece a querer ter contato com os humanos novamente. “Sentar do lado do bicho, conversar, tenta levar um brinquedo e aos poucos fazer com que ele queira participar do convívio novamente são os primeiros passos para reconfortá-lo nesse período”, alerta Mainardi.
Para ajudar o pet a superar a dor da perda, é essencial deixá-lo no seu próprio ambiente, dentro de casa, principalmente no caso dos cães, que são mais dependes dos seus tutores. “É importante manter o animal quieto, observar se ele está se alimentando e bebendo água. Caso ele pare de fazer essas atividades, é interessante levá-lo a um veterinário para averiguar outros procedimentos que para o bichinho retorne a se alimentar”, afirma Rodrigo.
Para quem necessita mudar o animal que está em luto para outro lar, o médico-veterinário alerta: em um primeiro momento, mudá-lo de ambiente não é recomendado, porque isso faz com que aumente o estresse do bichinho, e pode até favorecer o aparecimento de doenças. Em um segundo momento, quando ele estiver um pouco menos deprimido e começar a interagir um pouco mais, essa mudança pode até ser uma boa ideia. Sempre pensando que esse processo será bem delicado e tem que ser gradativo. Mas para quem não tem outra opção e precisa tirar o bicho do local com rapidez, é necessário observar a progressão e respeitar o momento de recuperação emocional desse animal.