Alguns peixes convivem bem com outras espécies, enquanto outros não aceitam dividir o aquário e acabam levando uma vida mais solitária para não ameaçar os demais. A principal diferença entre os tranquilos e os briguentos, diz o pesquisador Mauricio Keniti Nagata, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Peixes Ornamentais do Instituto de Pesca de São Paulo, é o ambiente de origem de cada um.
“A agressividade está relacionada à sobrevivência da espécie. Não é porque aquele peixe é mau. É apenas uma forma que a espécie desenvolveu para garantir a reprodução”, explica. Nesse sentido, saem na frente as espécies que marcam território para afastar os predadores e cuidar dos ovos ou filhotes.
Tal comportamento independe se o peixe é de água doce ou salgada e está relacionada ao modo com que a sua espécie se relacionava com os demais e se o ambiente de origem oferecia muitas ameaças. “Cada espécie tem um nicho, um conjunto de interação com outros peixes e, quando você coloca esse peixe no aquário, está o tirando do ambiente natural para colocá-lo em um artificial”, diz Nagata.
Entre os marrentos mais conhecidos, está o peixe Betta, que possui um comportamento mais territorial. Em ambiente natural, cada macho protege seu território e, na época da reprodução, as fêmeas vão para bem longe logo depois da desova. “Por isso, no aquário é preciso retirá-la, já que ele pode até mesmo matar a fêmea”, diz o especialista. Isso tudo porque o peixe macho precisa garantir o sucesso da reprodução e qualquer peixe é visto como uma grande ameaça.
Outras espécies de briguentos são ciclídeos em geral (originários das Américas ou da África), principalmente na época da reprodução. Os africanos, que originalmente se desenvolveram nos lagos Tanganica e Malaui, são agressivos, territoriais e adaptados a locais de água mineralizada. “Em ambiente doméstico, é possível diluir essa agressividade colocando vários peixes do mesmo tamanho e de agressividade semelhante no mesmo espaço. Assim, você consegue manter certo equilíbrio, desde que o aquário tenha um bom tamanho e ofereça esconderijos”, explica Nagata.
Para utilizar essa técnica, é preciso ter cuidado redobrado com a qualidade da água – a partir do uso de filtros mecânico e biológico, e trocas parciais de água – e com a quantidade de comida.
“O importante é sempre conhecer a espécie, pesquisar o máximo de informações para saber qual é o seu habitat, por que ele se comporta daquele jeito e quais são os seus níveis de exigência. Se o peixe é agressivo, é porque isso servia para alguma coisa, é seu instinto de sobrevivência”, conclui o pesquisador.