Já ouviu falar em esporotricose em gatos? Saiba mais sobre essa doença

A esporotricose, infelizmente, é uma doença muito comum em gatos no Brasil. Não bastasse o nome complicado, essa enfermidade pode trazer complicações para a saúde dos felinos, levando-os até à morte em casos de tratamento inadequado ou tardio.

 

Mas o que causa a esporotricose? A doença é provocada por fungos do gênero Sporothrix, encontrados em matéria orgânica como terra e vegetação. Ao entrar no organismo dos gatos por meio de feridas, por exemplo, o fungo passa a gerar lesões na pele. Essa não é, porém, a única forma de contaminação.

 

De acordo com a médica veterinária Victoria Pereira Cavalcante, da clínica The Cat Doctor, de São Paulo, a maioria dos bichanos adoece após brigas. “A esporotricose acomete muitos gatos machos não castrados e que passeiam nas ruas. Ao brigar com pares doentes, mordendo-os ou os arranhando, eles entram contato com a secreção das lesões, infectando-se”, explica a especialista.

 

Uma lesão localizada é o primeiro sintoma. Nos estágios mais avançados da esporotricose, entretanto, os gatos apresentam lesões por todo o corpo, alastradas pelo hábito de os animais se lamberem ou pela própria circulação sanguínea. Além disso, o nariz incha e se deforma, adquirindo o formato abaulado chamado de “nariz de palhaço”, e os bichanos ficam bastante prostrados, perdendo peso. Em felinos debilitados ou com problema de imunidade a doença pode evoluir rapidamente, comprometendo o fígado, atacando outros órgãos e causando a morte.

 

Portanto, não se esqueça: é fundamental consultar um médico veterinário tão logo você perceba alguma alteração na pele do seu amigo!

 

Tratamento

O tratamento da esporotricose é feito com antifúngicos, especialmente o itraconazol. Em casos mais graves, medicamentos como o iodeto de potássio podem também ser administrados. “A terapêutica é longa, com um tempo médio de quatro meses. E é preciso continuá-la por pelo menos um mês após a cura clínica, pois há o risco de a doença voltar”, descreve a doutora Victoria.

 

A esporotricose é tão séria que exige doses elevadas de antifúngicos, muito maiores que as indicadas, por exemplo, no tratamento da dermatofitose – outra doença cutânea de grande incidência em gatos.

Pode ser que, em estágios muito avançados da doença, os médicos entendam não restar saída senão sacrificar os bichinhos. A especialista consultada pelo Portal Melhores Amigos, contudo, se opõe à eutanásia para o problema em questão, aconselhando os tutores a insistir no tratamento. “Já presenciei casos de gatos com esporotricose desenganados e que, graças à persistência na assistência médica, se recuperaram. A cura demorou, mas veio”, relata Victoria.

 

Cuidados necessários

 

Ninguém quer passar pela aflição de ver o seu companheiro de quatro patas passando por um tratamento longo ou sofrendo, não é mesmo? Por isso, o principal meio de prevenir que gatos adquiram esporotricose é mantendo-os em casa. Evitar que os bichanos passeiem por aí evita essa e outras doenças, além de acidentes.

 

A castração também é uma medida recomendada, para diminuir o ímpeto briguento dos machos.

 

E o que fazer após um diagnóstico positivo? “Uma providência importante é isolar o felino doente, impedindo o contato com outros gatos. Ademais, os tutores devem tomar muito cuidado no contato com os animais enfermos, utilizando luvas ao tocá-los e limpando ambientes e objetos com cloro”, recomenda Victoria. Isso porque a esporotricose é uma zoonose, ou seja, uma doença transmissível aos humanos.

 

Até 1998, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) registrava uma média de dez casos de infecções humanas por ano no Brasil, que ocorriam devido ao contato com flores e plantas – antigamente, a esporotricose era conhecida como “doença dos jardineiros”. A partir de então, por motivos não muito claros, a ocorrência da doença em gatos aumentou vertiginosamente, assim como a transmissão para humanos. Como a doença em pessoas não exige notificação, não há dados precisos sobre sua prevalência. No entanto, diversos cientistas já consideram a esporotricose transmitida por felinos uma doença endêmica, bem como um problema de saúde pública.

 

Em pacientes imunodeprimidos, como aqueles com AIDS, a esporotricose pode ter contornos sérios e até ser fatal. Contudo, Victoria Cavalcante esclarece que o desenvolvimento da doença em humanos não é tão grave quanto em gatos. “O habitual é o surgimento de algumas lesões na pele, e o tratamento costuma ser tranquilo. Mas é importante procurar um infectologista. Existem instituições preparadas para cuidar da doença”, comenta a médica veterinária.

 

Ainda não existem vacinas contra a esporotricose. Por isso, a prevenção é fundamental. Também é importante não culpar os gatos pelo problema. Eles não são vilões, mas as maiores vítimas da doença.

 

Quer saber mais sobre esporotricose? A Fiocruz publica regularmente conteúdo sobre o assunto. Você pode começar por aqui: https://agencia.fiocruz.br/esporotricose-0

 

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