Talvez você já tenha ouvido falar de um bichinho todo colorido e chamativo que vive na região amazônica chamado sapo ponta-de-flecha. Se este nome estiver se referindo a um anfíbio da espécie Phyllobates terribilis, cuidado! Trata-se do animal cujo veneno é o mais letal que se conhece. Apenas alguns microgramas do seu veneno são capazes de matar uma pessoa em minutos. Os Phyllobates estão presentes nas florestas da Colômbia e não há registro de que perambulam pelas matas brasileiras, afirma o biólogo Carlos Jared, diretor do laboratório de Biologia Celular do Instituto Butantan.
O sapo ponta-de-flecha é uma denominação simplória traduzida diretamente do inglês (Arrow frog), que inicialmente se referia apenas ao Phyllobates terribilis, mas acabou se generalizando e hoje se atribui popularmente a qualquer sapo colorido e venenoso, explica Jared. O nome é uma referência a um costume de indígenas da Colômbia que usavam a pele desses anfíbios para envenenar a ponta de dardos e flechas.
Na Amazônia brasileira, existem muitas outras espécies desses anfíbios, que são chamadas genericamente de “Dendrobates”, todas elas caracterizadas pelo colorido intenso e pela toxicidade, alerta Jared. O biólogo ressalta, no entanto, que é muito difícil alguém morrer por causa das toxinas de um sapo desse tipo, “a não ser que a pessoa engula um”, brinca.
A presença de venenos e de outras centenas de substância na pele é, atualmente, a característica dos anfíbios mais estudada pelos cientistas. “Alguns deles são capazes de secretar adrenalina e outras substâncias parecidas com o ópio. Como apresentam essa capacidade de produzir uma gama tão grande de substâncias são chamados pelos cientistas de boticários naturais”, relata Jared. Trata-se de uma defesa, usada contra predadores e microrganismos, que esses animais trazem a partir de sua evolução de mais de 400 milhões de anos no planeta.
O biólogo explica ainda que as cores, a outra característica típica dos Dendrobates, também é usada como um importante instrumento de defesa contra eventuais predadores e agressores. Como esses anfíbios convivem há muito tempo com outros animais da Natureza, já se criou uma espécie de “memória coletiva” entre eles que indica o perigo ao se aproximar de um bichinho de cores vivas e variadas. “As cores funcionam como um aviso: não cheguem perto de mim!”, destaca Jared.
Com tamanha quantidade de substâncias bioativas na pele desses anfíbios, existem várias pesquisas científicas em andamento para que sejam aproveitadas em aplicações medicinais, como anestésicos e outros medicamentos.