Grandes felinos, como leões, tigres, onças e guepardos sempre inspiraram medo e fascínio. São comuns as histórias daqueles que tentam domar ou domesticar essas feras. E não é de hoje que o ser humano tenta trazer para dentro de casa um pouco da majestade felina. A própria convivência das civilizações com o gato doméstico (Felis catus) é relativamente recente: cerca de 10 mil anos. Em relação aos cães, aparentemente é a metade do tempo. Estudos divergem, mas o cálculo médio é algo como 20 mil anos.
Acredita-se que o Felis catus surgiu quando sua “versão selvagem”, variações do Felis silvestris, passou a conviver com humanos por conta de uma relação de simbiose – na qual ambas as formas de vida saem ganhando: populações ganhavam um bom caçador de ratos e outras pragas, e os gatos conseguiam abrigo e alimento com uma facilidade que não existia na natureza.
Resumidamente, desse convívio surgiu o cruzamento de espécimes menos agressivos e mais simpáticos aos seres humanos, e essas variações genéticas deram origem ao gato doméstico. Mas o fascínio pelas feras mais selvagens continua. E é uma boa parte do motivo que fez com que animais híbridos fossem cultivados e desejados.
“Gatos híbridos são o resultado do cruzamento do gato doméstico com alguma espécie de gato selvagem – explica a médica-veterinária Vanessa Zimbres, da clínica Gato É Gente Boa, exclusiva para felinos. De acordo com ela, são dois os gatos híbridos mais comuns. Um deles é o gato-de-begala, ou bengal, resultado do cruzamento do gato comum com o leopardo-asiático (Prionailurus bengalensis). Essa raça apresenta uma pelagem malhada, que lembra uma onça. Outro é o savannah, considerado de grande porte, e que foi criado a partir do cruzamento do gato doméstico com o serval (Leptailurus serval).
Ainda que os bengals comecem a ser avistados no Brasil, ainda são um animal raro. Mais raro ainda é avistar um savannah, uma das raças cujo preço por filhote é um dos mais altos do mundo. Um dos motivos é a dificuldade de obter exemplares viáveis, o que pode demorar até quatro gerações de cruzamento entre um selvagem e um doméstico. “Na natureza, esses gatos provavelmente nem coexistiriam, ao menos não em segurança, pois o gato selvagem pode ver o parceiro pretendido como presa. Ou, simplesmente, a diferença de tamanho tornaria a reprodução difícil. Apesar de não haver estudos comparando o comportamento dos gatos de primeira e de quarta geração, esses híbridos mesmo distantes são frequentemente menos previsíveis que os gatos domésticos, e conhecidos por serem temperamentais ou ariscos.
Por que é complicado obter um gato híbrido? Veja os apontamentos da médica-veterinária Vanessa Zimbres:
- Os gatos de quarta geração apresentam menos de 15% do componente genético selvagem. A partir daí é mais fácil realizar o cruzamento desses animais para um programa de melhoramento da qualidade das características selecionadas como qualidade da pelagem, formato do corpo e temperamento.
- Os gatos domésticos têm 38 cromossomos, enquanto os selvagens mais comumente usados nos cruzamentos apresentam 36. Essa diferença leva, primeiramente, à dificuldade na produção de nascidos vivos.
- Além disso, o período de gestação costuma ser diferente e os filhotes que sobrevivem podem nascer prematuros ou abaixo do tamanho. Fêmeas selvagens podem rejeitar esses filhotes. Então, pode ser necessário uma mãe adotiva para esses gatinhos.
- Os machos da primeira geração são geralmente inférteis assim como algumas fêmeas. Os animais resultantes dessa primeira prole que são capazes de se reproduzir devem ser cruzados com outros gatos domésticos, e assim por diante, até que a fertilidade seja restaurada. Isso acontece, geralmente, a partir da quarta geração.
- Em relação ao comportamento, desaconselha-se a venda e criação de filhotes da primeira até a terceira geração, devido a sua natureza ainda fortemente selvagem e portanto, imprevisível.
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