Não é raro encontrarmos na internet histórias comoventes sobre a parceria de humanos e animais de estimação, principalmente em momentos em que somente a amizade entre os dois parece fazer diferença. Você já viu no Portal Melhores Amigos como os pets podem melhorar o tratamento dos problemas de saúde de seus tutores e, pensando nisso, procuramos mais histórias emocionantes sobre a relação entre o ser humano e os animais.
A psicopedagoga Liana Pires Santos, que acumula experiência em tratamentos utilizando equinos, cães, répteis e aves, recorda a história de Nicholas, um garoto que se mudou dos Estados Unidos para o Brasil com oito anos de idade. Situado dentro do espectro do autismo, o menino encontrava-se isolado, mesmo frequentando uma escola inclusiva. “Semanalmente, levávamos diversos cães à sua escola. Depois de seis meses de trabalho, Nicholas se encantou com uma Golden Retriever chamada Mila. Ria quando tentava escovar seu pelo, e andava ao lado dela segurando a guia”. Com o sucesso dessa abordagem, a família de Nicholas optou por adquirir uma fêmea da mesma raça para o menino, Abby, e a dupla tornou-se inseparável. “Certa noite, o menino saiu de casa correndo. A cadela, pressentindo o perigo, foi atrás de Nicholas, latindo para alertar a família. A Abby havia realmente se tornado uma extensão da própria criança”, conta.
Liana lidera o Projeto Caminhar e Gati – Grupo de Abordagem Terapêutica e Integrada, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) situada na Zona Sul da capital paulista, e que atende 60 pacientes por mês.
Outro caso relatado pela profissional é de um garoto chamado Heitor, cujo quadro de paralisia cerebral (que gera dificuldade de movimentos no corpo) exigia que suas provas na escola fossem aplicadas oralmente. “Heitor caiu em uma depressão profunda depois que uma professora de matemática disse que suas provas orais eram trabalhosas e desgastantes [para ela]. Junto a isso, desenvolveu uma reação alérgica com urticárias gigantes, e perdeu sete quilos em dez dias. Já era psicopedagoga dele desde os seus sete anos de idade, e a família me pediu ajuda”.
Liana passou a levar o garoto para seu espaço de equoterapia (terapia assistida por equinos), para que fosse seu auxiliar. “Heitor estava muito fraco e com medo dos cavalos. Pedi para que ele me ajudasse apitando o início de cada sessão. Mas já no segundo dia, ele se aventurou a montar. Em uma semana, já estava muito mais habilidoso. Seu apetite voltou, pois tinha que ‘ficar forte para montar bem’. No Natal daquele ano, quando reunimos os pedidos de Natal dos alunos, agradeceu muito ao Papai Noel e pediu que continuasse as aulas, dizendo no seu bilhete: andar a cavalo não é terapia, é um compromisso de lazer!”.
A chave dessas transformações está no fato de que a relação com os animais retira o paciente de um não raro sedentarismo e cria uma nova situação relacional. “Entre os animais e, principalmente as crianças, surge uma relação lúdica e feliz, que une toda a família. Existe uma comunicação não verbal muito importante neste tipo de terapia. As crianças e todos os participantes desenvolvem uma percepção ambiental e os estímulos sensoriais afloram-se. Segurar um pássaro no dedo, por exemplo, trabalha a sensibilidade e a consciência corporal”.
O Projeto Caminhar/Gati funciona com trabalho voluntário. Para participar, entre em contato pelos telefones: 3442-3013 / 2364-6391 ou pelo e-mail: secretariagati@gmail.com.
Por André Spera