Não consegue ficar longe de um gatinho, mas basta chegar perto de um que começa a espirrar e sentir a garganta fechar? Com certeza você não está sozinho no mundo. Muitos amantes dos felinos sofrem por conta de sua alergia a estes pets.
Ao contrário do que se imagina, esta alergia não acontece por conta do pelo ou saliva do animal. Algumas substâncias na natureza causam alergia nos humanos e são chamadas de alérgenos. Um dos tipos mais comuns são os aeroalérgenos ambientais, do qual faz parte o epitélio da pele morta dos gatos. Este tipo de alérgeno chega a afetar entre 3 e 10% da população, segundo Leonardo Oliveira Mendonça, médico imunologista e alergista da Clínica Croce e Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Entre os sintomas da alergia ao gato, estão os espirros constantes, coceira no nariz e olho, falta de ar, peito chiando, ou mesmo reações na pele, com o surgimento de manchas, especialmente nas dobraduras do braço, e na face. “É o que chamamos popularmente de grosseirão”, explica Mendonça.
Se a pessoa tem predisposição a desenvolver esta alergia, nem tudo está perdido. A primeira coisa a se identificar é se ela já entrou em contato com o epitélio do animal e tem o que Leonardo chama de “sensibilização”. É possível determinar isto através de exame de sangue ou exame cutâneo. “Nós pegamos um extrato do epitélio da pele do gato para ver se a pessoa tem uma reação imunológica a ele.”
Se a pessoa tiver esta alergia, há diversas abordagens no tratamento. “Este é o trabalho do médico imunologista ou alergista: fazer com que a pessoa se torne tolerante ao alérgeno com o qual ela quer conviver”. A mais simples é a exposição contínua e progressiva ao animalzinho. A pessoa com alergia fica ao lado do gato por uma ou duas horas num dia. Depois aumenta o período para três, quatro horas, sucessivamente, até poder ficar ao lado do felino sem nenhuma restrição. Tudo feito sempre com orientação médica. “Esta indução de tolerância imunológica ajuda o corpo a entender que o epitélio do gato não é uma coisa estranha e agressiva.”
O indivíduo que já tem asma ou rinite, e sabe que a doença piora ao lado de um gatinho, também pode ser tratado. Desta vez, o tratamento é realizado num hospital ou clínica. “Antes de a pessoa entrar em contato com um gato, nós vamos fazer sua dessensibilização. Isso significa fazer uma aplicação no braço dela, em doses crescentes, de extrato de epitélio de gato. Ela fica tolerante ao animal sem entrar em contato com ele”. Ao fim do tratamento, é só alegria: o paciente pode ficar ao lado do bichano sem apresentar sintoma algum.
Em ambos os casos, o tratamento é bem eficaz, afirma Leonardo. Apenas pessoas com uma predisposição a ter muitas alergias podem ter mais dificuldade em melhorar esse problema com gatos. “Neste caso, é muito difícil dessensibilizar para o gatinho. O gato, além de transportar seu epitélio que é, por si só, um aeroalérgeno. Ou seja, ele também carrega pó, outros epitélios que pega no chão, e mais aeroalérgenos. O sistema imunológico ficará confuso se formos trabalhar a dessensibilização de todos estes alérgenos juntos.