O treinamento de obediência é essencial para o desenvolvimento de um cão equilibrado e bem comportado, e para garantir uma relação harmoniosa entre tutor e animal, é importante entender os primeiros passos a serem dados. De acordo com Pedro Fernandes, adestrador funcional e psicólogo especialista em comportamento canino, além de fundador da Pet Às Avessas, o treinamento deve ser iniciado com três pontos cruciais: vínculo, foco e controle ambiental.
“É fundamental que o cão confie em você para que a aprendizagem aconteça de forma natural”, explica Fernandes. “Brigar não é a solução. Regras e disciplina são conquistadas por meio da reciprocidade, ou seja, através da construção de um vínculo positivo.” O adestrador destaca a importância de estabelecer um ambiente agradável e seguro, com atividades que motivem o cão a prestar atenção no tutor, criando um espaço no qual aprender seja algo prazeroso para o animal.
Outro aspecto essencial é o controle ambiental e dos recursos. Fernandes ressalta que a obediência só é eficaz quando o tutor é a fonte dos recursos. “Alimentação a livre demanda e brinquedos espalhados pela casa enfraquecem o vínculo, pois o cão não buscará mais o tutor para obter o que deseja. Ele acabará rejeitando os recursos disponíveis, o que enfraquece a relação e o controle”, alerta.
Comandos básicos
A segurança do cão e a eficácia do treinamento dependem de ensinar alguns comandos básicos. Para Fernandes, cinco comandos são essenciais para garantir a obediência:
- Nome: O nome do cão deve ser um dos primeiros comandos a ser aprendido, já que também contribui para o desenvolvimento do foco. “É imprescindível que o cão aprenda seu nome, isso é fundamental para a comunicação entre humano e seu animal”, afirma o adestrador.
- Senta: Este comando ajuda no controle dos impulsos do animal e na comunicação entre cão e ser humano
- Deita: Similar ao “senta”, o “deita” é importante para o relaxamento e controle dos impulsos, além de ser uma ferramenta de segurança.
- Fica: O “fica” desenvolve a independência emocional do cão, essencial para garantir segurança e ajudar no controle de seus impulsos.
- Vem: Este comando de “recall” é crucial para garantir que o cão retorne quando chamado, garantindo a segurança do animal e das pessoas ao seu redor.
Qual é a idade ideal para começar?
Não há idade mínima para iniciar o treinamento de um cão, de acordo com Pedro Fernandes. “Assim que o cão sai da barriga da mãe, é possível começar os primeiros exercícios”, diz ele. Mesmo cães filhotes muito jovens, que ainda não enxergam ou escutam claramente, podem começar a ser introduzidos ao treinamento, especialmente com o uso do olfato, uma habilidade desenvolvida desde os primeiros dias de vida.
E quanto aos cães adultos? Fernandes garante que o treinamento também é possível, embora um pouco mais desafiador. “Cães adultos, até mesmo os mais velhos, podem aprender, mas o processo pode ser mais complexo, pois eles já solidificaram comportamentos. Porém, todo cão está sempre aprendendo e se desenvolvendo, e a modificação de comportamento pode ser alcançada, mesmo nos mais teimosos”, explica.
Como lidar com comportamentos desafiadores?
Comportamentos como latidos excessivos ou dificuldades de atenção são comuns, mas podem ser trabalhados. O adestramento, segundo Fernandes, deve ser baseado na “Análise Funcional do Comportamento”, uma ciência da psicologia comportamental que busca entender a razão por trás de cada comportamento. “O latido, por exemplo, pode ter diversas funções: medo, alerta ou até busca de atenção. Identificar o motivo é crucial para elaborar um plano eficaz de modificação comportamental”, afirma.
Fernandes utiliza o “contra condicionamento” como a principal técnica para lidar com comportamentos indesejados. Isso envolve ensinar o cão a usar comportamentos alternativos, como sentar ou levantar a pata, em vez de latir para chamar a atenção.
Treinar em casa ou procurar um profissional?
Ao decidir entre treinar o cão em casa ou buscar um profissional, Fernandes orienta que se avalie o seu conhecimento sobre comportamento canino e a gravidade dos comportamentos do animal. “Para treinar em casa, é essencial ter um bom conhecimento sobre as necessidades do cão. Caso contrário, o melhor caminho é buscar a ajuda de um profissional, especialmente em casos mais graves, como agressividade ou transtornos psicológicos”, conclui.
No final, o adestramento bem-sucedido depende do vínculo entre ser humano e cão, paciência, e, principalmente, da utilização de métodos que respeitem as características e limites do animal. Com a orientação adequada, cães de todas as idades podem aprender a se comportar de forma segura e obediente.