Os gatos, conhecidos por sua independência e charme, também são suscetíveis a diversas doenças. Por isso, conhecer as enfermidades mais comuns e suas prevenções é crucial para garantir a saúde e o bem-estar dos felinos.
Natalie Oliveira, médica-veterinária e analista de assuntos regulatórios da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), destaca quatro doenças que são muito prevalentes nos gatos:
1 – Complexo Respiratório Felino (CRF)
É um conjunto de doenças respiratórias que inclui a pneumonite felina (bactéria Chlamydia psittaci), a rinotraqueíte felina (herpesvírus) e a calicivirose (picornavírus). Entre os sintomas mais comuns estão espirros, secreções oculares e oronasais, conjuntivites, febre, além de úlceras na boca, língua e córnea.
Possui alta morbidade e, dependendo do agente infeccioso envolvido, pode ter alta mortalidade. O tratamento é sintomático e de suporte, incluindo o uso de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais, antibióticos (específicos para a pneumonite e para prevenir infecções bacterianas oportunistas), orexígenos, mucolíticos e descongestionantes nasais, conforme os sinais clínicos apresentados e a evolução do quadro.
A internação do animal deve ser considerada apenas em casos mais graves que necessitem de suporte mais específico, como oxigenoterapia e fluidoterapia, para evitar piora por estresse e transmissão de doença para outros animais em um ambiente hospitalar veterinário. A vacinação é fundamental para proteger contra a calicivirose e a rinotraqueíte, que são as formas mais graves do complexo respiratório felino.
2 – FeLV (Leucemia felina)
A leucemia felina é uma doença comum em animais filhotes e jovens, especialmente em criações coletivas e colônias de animais de rua, frequentemente associada à FIV (Imunodeficiência Viral Felina/AIDS felina) – trata-se de uma retrovirose que pode reduzir a expectativa de vida do animal.
A doença está frequentemente ligada a gatos semidomiciliados com acesso à rua e em contato com outros felinos, especialmente durante brigas. Provoca síndromes clínicas que incluem neoplasias, anemia, imunossupressão e maior suscetibilidade a infecções secundárias. Além disso, neuropatias, doenças imunomediadas e alterações reprodutivas podem ocorrer.
Animais positivos para FIV e FeLV devem passar por check-ups a cada 6 meses, especialmente com exames de sangue, e ser monitorados caso apresentem sintomas, independentemente dessa periodicidade. O tratamento de suporte é adaptado de acordo com os sinais clínicos apresentados pelo paciente, podendo incluir o uso do antirretroviral AZT.
A vacinação com a v5 é eficaz na proteção contra a FeLV. É crucial evitar que os animais saiam de casa para reduzir o risco de contraírem a doença de outros felinos na rua. Animais positivos para FIV ou FeLV devem ser mantidos segregados dos animais negativos para evitar a transmissão.
3 – Esporotricose
A esporotricose é uma micose de pele causada pelo fungo do gênero Sporothrix. Nos felinos, manifesta-se como feridas cutâneas profundas, frequentemente com pus, de difícil cicatrização e pode evoluir rapidamente para espirros. É importante ressaltar que a esporotricose é uma zoonose, ou seja, as pessoas em contato com o animal devem tomar cuidados para não contraírem a doença.
O tratamento da esporotricose envolve o uso de antifúngicos orais, sendo o itraconazol geralmente o medicamento escolhido. Dependendo do estado das lesões de pele no gato, pode ser administrado um produto tópico, como pomada.
Para prevenir a esporotricose, é recomendado evitar que o gato saia de casa e manter os ambientes limpos, sem plantas decompostas, que podem ser fontes de contaminação. Também é importante segregar os animais doentes e evitar tocá-los sem luvas, como medida preventiva para os seres humanos.
4 – Toxoplasmose
A toxoplasmose, popularmente conhecida como a “doença do gato”, é uma zoonose causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Geralmente é transmitida diretamente do gato ao humano e é importante ressaltar que os felinos não costumam apresentar sinais clínicos evidentes da doença.
No entanto, no ciclo enteroepitelial, podem surgir sinais leves e discretos, como vômitos e diarreias. Em animais com comprometimento da imunidade, como recém-nascidos, portadores de FIV e FeLV ou sob tratamento com corticosteróides, os sintomas podem incluir anorexia, aumento da vocalização, apatia, hipotermia, dispneia e até morte súbita. Os felinos geralmente contraem o protozoário em caçadas ou ao consumir carnes cruas.
Os gatos que contraem o protozoário permanecem infectados por toda a vida, embora apenas eliminem a forma infectante do agente infeccioso pelas fezes por um tempo breve e determinado. O tratamento para casos mais graves pode incluir clindamicina, o fármaco de eleição para a forma sistêmica da enfermidade. Corticosteróides tópicos são utilizados como suporte no tratamento da uveíte causada pelo T. gondii.
Para prevenir a toxoplasmose, é importante não permitir que os felinos domésticos saiam à rua, evitando assim seus hábitos de caça. Deve-se evitar fornecer carne crua aos gatos, optando por oferecer apenas ração. Em humanos, é importante sempre lavar as mãos após limpar a caixa de areia dos pets felinos. As proprietárias gestantes não precisam “se livrar” dos seus animais, mas a tarefa de limpar fezes e urina da caixa de areia, por exemplo, não deve ser executada por elas.