O autismo é uma condição mais comum do que se imagina e, apesar de muitos de nós já termos ouvido falar sobre ele, nosso conhecimento leigo ainda segue permeado por estereótipos e falta de informação.
Atualmente, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que existam 70 milhões de pessoas autistas no mundo – sendo, aproximadamente, dois milhões de casos no Brasil.
Mas o que é o autismo?
“Os Transtornos do Espectro Autista (TEA), ou Autismo, como é amplamente conhecido, são classificados como Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID) e são caracterizados pelo comprometimento qualitativo do desenvolvimento, gerando diferentes impactos em cada um dos sujeitos afetados, desde o estabelecimento da subjetividade, relações interpessoais, linguagem, comunicação, aprendizado e capacidade adaptativa”, descreve Lidianne Zorzetto de Carvalho, terapeuta ocupacional da equipe da ONG ATEAC e da Adacamp – Associação para o Desenvolvimento de Autistas, ambas em Campinas.
Os sinais que caracterizam uma pessoa autista são muito variados e aparecem na tenra infância. Segundo Lidianne, “eles têm início precoce ─ alguns sinais podem ser observados próximos aos três anos de idade ─ e suas manifestações são extremamente variáveis”.
A terapeuta conta que os sinais mais comuns que caracterizam um quadro de TEA são “dificuldade de se relacionar com outras pessoas e de expressar necessidades, perceptível hiperatividade ou inatividade, pouco ou nenhum contato visual, risos inapropriados, ausência de resposta aos métodos convencionais de ensino, insistência na repetição e fixação por alguns objetos. Tais fatores são capazes de prejudicar seu relacionamento com o mundo que o cerca e seu desenvolvimento global”, ressalta Lidianne.
Como é feito o acompanhamento de autistas e como os animais podem ajudar?
De acordo com a terapeuta, “o acompanhamento do usuário com TEA depende das características microfuncionais identificadas em cada um deles, suas qualidades, potências e suas dificuldades. O trabalho executado por nossa equipe na Adacamp se inicia a partir de uma observação técnica e da coleta de informações sobre como esse sujeito se relaciona e se comunica, como responde a certos estímulos, quais são as dificuldades encontradas no cotidiano e quais características que o qualificam”, relata Lidianne.
O trabalho é interdisciplinar, composto por diversos profissionais atuando na coleta de dados e no acompanhamento do indivíduo. “Tais dados são colhidos através de um diálogo com pedagogos, monitores e profissionais de saúde que acompanham esse usuário há algum tempo dentro da instituição, com os pais que se aproximam de nossa equipe em ambientes menos formais e também com os próprios voluntários da Ateac”, explica a profissional.
Atualmente, a Adacamp conta com cinco voluntários e cinco cães-terapeutas, entre as raças Labrador, Golden Retriver, Dachshund e SRD (sem raça definida), que executam o trabalho orientados pelo profissional de saúde. A instituição atende cerca de dezoito pessoas com idade entre 16 e 40 anos.
“Costumo direcionar o jovem atendido para algum voluntário e cão-terapeuta dependendo da característica de ambos. Por exemplo, devo levar em consideração a dificuldade de se relacionar de um jovem e sua intolerância ao toque e proximidade física, escolhendo um cão que seja mais calmo e contido. Um cão extremamente afetuoso, que solicita afagos e se aproxima corporalmente de forma voluntária, pode causar uma resistência ao atendimento e dificultar o vínculo terapêutico”, explica Lidianne.
Por outro lado, a terapeuta explica que “a mesma característica pode, em outro momento, ser utilizada para trabalhar a receptividade e demonstração de afeto, a socialização ou outro fator mais deficitário naquele usuário. Desta forma, conseguimos prever qualidades que se complementam numa relação voluntário/cão-terapeuta/atendido respeitando os limites do sujeito”.
Quais os benefícios da relação entre pessoas autistas e animais?
Os ganhos advindos da relação entre animais e pessoas autistas são inúmeros e variam de acordo com cada paciente. Segundo Lidianne, alguns dos principais benefícios são:
– Melhora da socialização e comunicação;
– Redução do isolamento e solidão;
– Estímulo de afeição e prazer;
– Melhora do humor e da atenção;
– Melhora nos níveis de concentração e aprendizagem;
– Ajuda na expressão de sentimentos e habilidade para confiar no outro.