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Como a depressão pode afetar as aves?

Vivemos em uma era cheia de “males do século” e, entre os mais conhecidos, podemos citar o estresse ou até mesmo o sedentarismo e suas diversas consequências. Porém, nenhum ganha da depressão, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “o mal do século XXI”. O transtorno se tornou tão “comum” que até as aves não escaparam do problema e podem apresentar desvios de comportamento relacionados a estresse e depressão.

Como as aves se expressam

“Antes de falar de um comportamento específico, é necessário entender melhor como as aves se expressam. De todos os assuntos abordados sobre aves, talvez o mais desafiador para os veterinários seja o comportamento. No contexto científico, comportamento é qualquer coisa que o animal faça que possa ser observado e medido, e é representado pelo resultado da mistura de sua hereditariedade e aprendizado”, contextualiza Marta Brito Guimarães, médica veterinária especialista em animais silvestres da empresa de consultoria VetWings, em São Paulo.

De acordo com a especialista, aves observadas em campo confirmam que psitacídeos – como Papagaios, Araras e Calopsitas – possuem um sistema de comunicação muito rico e sutil que envolve as penas do corpo, cabeça, olhos, movimentos do pescoço, postura corporal, asas, cauda, membros pélvicos e vocalização. “Todas as partes do corpo são usadas para comunicação de desejos, intenções, conforto e desconforto do animal”, descreve.

A depressão e suas possíveis interpretações

“Dentre os comportamentos naturais das aves que já conhecemos estão: alimentação, reprodução, vocalização, voar/exercitar, tomar banho, dormir etc. Existem outros comportamentos que a ave demonstra que são mais difíceis de interpretar, como a depressão. Esta pode ser demonstrada como apatia e/ou estresse, que geralmente estão associados e são confundidos com sinais clínicos de doenças, como perda de apetite, penas eriçadas, alterações nas fezes, agressividade, mudanças de comportamento e arrancamento de penas”, aponta Dra. Marta.

“A perda de apetite, penas eriçadas e alterações nas fezes são manifestações clínicas que podem estar associadas a diversos tipos de doenças e podem indicar dor e desconforto. A agressividade e as mudanças no comportamento podem estar relacionadas à época de reprodução e alterações hormonais, mas também podem demonstrar que o animal está em uma situação de estresse. O arrancamento de penas é um processo crônico que a ave desenvolve secundariamente a uma situação de estresse, frustração e pouca interação social. O mesmo ocorre com a vocalização excessiva em que o animal demonstra seu estresse e tédio através de gritos”, esclarece a médica veterinária.

Desta forma, é importante descartar qualquer alteração clínica relacionada a doenças existentes antes que seja confirmada a alteração comportamental.

As causas da depressão em aves

“As causas mais comuns de alterações comportamentais relacionadas à depressão, apatia e estresse são mudanças na rotina e no ambiente da ave, ou seja, mudanças relacionadas à localização da gaiola, alimentação, brinquedos e sono adequado. Outras causas podem ser a perda de um parceiro, ausência ou perda do proprietário”, revela Natalia Philadelpho Azevedo, médica veterinária especialista em animais silvestres, também da equipe VetWings.

Além destes fatores extremos que influenciam diretamente no bem-estar psíquico dos seres vivos de uma maneira geral, pequenos detalhes também podem provocar alterações comportamentais nos animais. “A maioria das aves gosta de lugares altos com vista para uma janela e com interação de humanos. A alimentação e os brinquedos devem ser usados como enriquecimento ambiental, oferecidos em novos formatos, de maneiras diferentes e desafiadoras para as aves”, indica Dra. Natalia.

E quem acha que ter uma ave significa deixá-la eternamente no mesmo lugar, está na hora de rever os conceitos. Segundo a especialista, “os proprietários de aves devem desenvolver maneiras de manter suas aves ocupadas, especialmente durante as longas horas que passam sozinhas. Elas devem ter um local apropriado para um sono adequado, onde não haja barulho ou iluminação, na ausência de um local assim, é sugerida uma ‘gaiola para dormir’, onde a ave é colocada numa gaiola pequena em um quarto desocupado e escuro, que os permite ter horas de escuridão e sono ininterrupto que precisam”, recomenda.

Como prover bem-estar para uma ave e evitar comportamentos associados à depressão

É possível evitar problemas comportamentais oferecendo um ambiente adequado ao animal, onde a gaiola esteja em um local limpo, alto, calmo e sem correntes de ar. “Muitas vezes, a gaiola pode ser movida durante o dia para um local onde a ave possa interagir com o proprietário. É importante dar uma alimentação variada e de boa qualidade, que pode ser oferecida em locais diferentes e de formas diferentes para estímulo do animal”, orienta Yamê Miniero Davies, médica veterinária especializada em animais silvestres, igualmente da VetWings.

A médica veterinária explica que os brinquedos devem ser de materiais naturais que possam ser quebrados e destruídos pelas aves para, desta forma, ela descarregar a energia e o tédio, variando sua localização e formato regularmente para que sempre haja novidade para brincar.

Por último, é imprescindível trabalhar a relação tutor-animal. “O proprietário deve ter uma rotina de interação com a ave, tirando-a da gaiola para brincar. Com um pouco de paciência e dedicação, é possível treinar e ensinar truques para a ave e, assim, incentivar comportamentos desejáveis ocupando o tempo do animal com o estímulo mental adequado”, relata Dra. Yamê.

Lembrando que vale usar e abusar de recursos que deixem o habitat do seu pet o mais aconchegante, divertido e prazeroso possível. “Hoje em dia, o enriquecimento ambiental é um dos maiores aliados para promover o bem-estar, estimular comportamentos naturais e, muitas vezes, corrigir alterações comportamentais das aves. Por isso, é importante que o proprietário forneça um ambiente enriquecido ao animal e mantenha uma interação social e estímulo mental”, conclui a especialista.

 

 

Por: Paula Soncela
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