Adoção responsável: a história de Marrom, o cãodeirante

Quem entra no perfil do Marrom no Instagram (@ocaodeirante), e vê o cão sorridente e bem cuidado, não imagina todos os desafios pelos quais ele passa, e tudo que aconteceu com ele.

Marrom é um cão sem raça definida de cerca de seis anos de idade. Ele foi encontrado após ser vítima de um atropelamento na rodovia Raposo Tavares, próximo à cidade de São Paulo. Entre as muitas consequências do acidente, tornou-se paraplégico. Foi resgatado e encontrou um lar temporário na ONG Vira-Lata é Dez. Foi lá que a psicóloga Sophia Kalaf conheceu o cão, durante suas atividades como voluntária.

“Estou na ONG desde 2014. Em 2016, criei uma campanha de adoção para animais especiais. Entre eles, nós tínhamos gatos cegos, uma cachorrinha que estava há 15 anos no abrigo e o Marrom, que havia sido castrado”. Mas por conta do acidente, até mesmo um procedimento simples, como a castração, levou a efeitos colaterais mais complexos. “Não sabíamos a extensão dos cuidados de que ele precisava, naquele momento”, explica Sophia, que carinhosamente define o cãozinho como um “pit-lata”, por conta de seus traços que lembram um pitbull. Marrom sofre de incontinência urinária, por exemplo, o que faz com que ele precise utilizar fraldas. Para passear, ele possui uma cadeira de rodas para cães.

“Algumas pessoas se interessavam por ele, mas ao entender toda a série de atenções que são necessárias no seu dia a dia, desistiam de adotá-lo, o que é compreensível já que nem todos têm condições financeiras, tempo e espaço. Nesse período, visitamos alguns veterinários e transpareceu que além da paraplegia, ele estava com outros problemas de saúde, como possível ruptura da uretra. Então ele precisaria de mais uma cirurgia. Fizemos uma campanha para angariar recursos para uma uretrostomia que foi bem-sucedida. Durante a recuperação ele ficou duas semanas na minha casa. E me apeguei muito a ele”. Por um curto período, ele voltou a morar no espaço da Vira Lata é Dez, mas acabou retornando para sua tutora temporária, que o adotou.

Sophia, que já cuidava das redes sociais e comunicação da ONG, criou o perfil do Marrom no Instagram, que também inspira tutores e futuros tutores a uma adoção responsável de animais, além de dar acesso a planilha com todos os gastos com terapias, lenços e fraldas. Também é possível colaborar comprando camisetas com estampa do mascote.

Para que o cãozinho tenha uma vida confortável, a sua rotina envolve atividades como massagens para esvaziar bexiga e o intestino, cujos movimentos voluntários foram comprometidos desde o atropelamento. Isso deve ser feito cerca de cinco vezes por dia.

Outro dos desafios é o quadro de disbiose do cão, causada pela quantidade de antibióticos que já teve de tomar. Apesar de agir contra micro-organismos que podem ser perigosos ao animal, esse tipo de medicamento passou a eliminar, também, as bactérias úteis ao aparelho digestório, o que compromete também o sistema imunológico. “Os antibióticos impedem a manutenção da flora intestinal do Marrom. Há alguns meses iniciamos um novo tipo de abordagem no tratamento, a partir da medicina integrativa – explica Sophia – esse tipo de tratamento integrativa aborda o paciente de forma integral, trabalhando para reduzir dor, estresse e nervosismo durante sessões terapêuticas”.

Dessa forma, uma nova dieta com alimentação natural foi adotada, além de sessões de ozonioterapia [esse tipo de terapia auxilia no tratamento de diversas doenças inflamatórias, infecciosas e isquêmicas, melhorando a qualidade de vida de pacientes]”. A partir desses cuidados, foi evidenciada melhora no quadro de infecção urinária no Marrom. Esse tipo de quadro renal é comum em cães paraplégicos.

E apesar de todas as dificuldades, o cãozinho está sempre sorridente. “Ele é um bebezão, e vai comigo pra todo lugar. É praticamente minha sombra com rodinhas”, diz sua tutora.

 

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